Rara Avis in Terris, JUVENAL, Sátiras, VI, 165

sábado, 26 de outubro de 2024

Sul Sereno - LIVRO

 




    É com alguma timidez que vos trago esta publicação, mas como já está à venda um pouco por toda a parte, seria impossível continuar a não vos anunciar isto... Foi, primeiro editado em Itália e em Espanha, mas agora ei-lo connosco.
    Depois de muitas hesitações, de muitos incentivos e do insuperável argumento de deixar uma "memória" para a minha neta Madalena, eis, finalmente, um livro com alguns dos meus poemas. Assim, também se explica o motivo do regresso ao título original deste blogue.

    A minha gratidão a todos, especialmente à académica Gerana Damulakis, minha madrinha poética - pelos blogues nos conhecemos. É dela a introdução e a contracapa:

Sinopse

«As realizações poéticas encantam, quando mais não fosse pela riqueza das imagens procedentes das possibilidades semânticas, seria pela musicalidade, tal a potencialidade rítmica dos versos. Vale lembrar que, em Arte Poética, Paul Verlaine escreveu no primeiro verso: "Antes de tudo, a música". Um bom exemplo está em Planura, com seus versos: Amo-te, porque te amo / Em definições extensas de dar... / E sinto-te quando te chamo /Dentro de mim, ao despertar! Os cantos vão prolongando os apelos que tornaram o sonho tanto refúgio quanto símbolo, construídos nas facetas fascinantes de um vigoroso discurso poético. Sonhemos, pois, com Ana e com seus poemas que trazem, em sua maioria, a palavra sonho, ora atuando como substantivo, ora como o verbo sonhar. O que precisa haver na síntese do sonho: amor e fé, pilares que apoiam quase um mito, tal a grandeza da esperança resultante. Agora vale lembrar outro poeta, Carlos Drummond de Andrade: "Amor - pois que é palavra essencial - / comece esta canção e toda a envolva". O processo de envolvimento e exame existencial conclui uma justaposição dinâmica, palavra e ritmo, com a qual é tecida a poética de Ana Tapadas. A poeta cria uma associação comunicativa fortalecedora de seus versos.»

Gerana Damulakis (Academia de Letras da Bahia)

    Espero que tenham a paciência de me ler. Podem encomendar aqui (ou nos locais do costume):



quarta-feira, 9 de outubro de 2024

Frágil

 

Pólis, Agora de Atenas - José Alves


        Sentada na Agora, sinto esse silêncio de quem volta ao lugar de onde partiu um dia. Perto, o mundo entrou num turbilhão desmesurado. Aqui, o bosque me abriga e a voz dos filósofos ainda ecoa. Aqui, tudo se decidia e se escreviam as leis a cumprir.
    O Planeta, enlouquecido, enfurece-se contra a fragilidade dos humanos. Os humanos, enraivecidos, continuam as matanças. O caos impera e a religião usurpou o lugar do conhecimento, para justificar o paradigma que criou com a política.
    Estou sentada na Agora e aqui é o coração da Pólis. Sinto-me amparada, regressei a casa - aqui! 
     



Agora de Atenas - José Alves



Ana Tapadas, in Antologia de Poesia Portuguesa Contemporânea, Vol. XVI.

terça-feira, 24 de setembro de 2024

Por onde andaste?

 

Óbidos, 2024


As mais lindas palavras de amor são ditas no silêncio de um olhar.


(Leonardo da Vinci)


Mérida, 2024


Onde estavas, eu estava, e onde eu estava, aí querias estar.

(Provérbio Romano)


Peniche, 2024


Meu amor tem duas vidas para amar-te.

Pablo Neruda


Figueira da Foz, 2024



Regresso devagar ao teu
sorriso como quem volta a casa

Manuel António Pina


Alcácer do Sal, 2024


Em Alcácer eram verdes as aves do pensamento.


Joaquim Pessoa


Ponte de Lima, 2024


Façamos da interrupção um caminho novo.
Da queda um passo de dança,


Joaquim Sabino


Ponte de Sor, 2024




Eu te peço perdão por te amar de repente
Embora o meu amor seja uma velha canção nos teus ouvidos,


Vinicius de Moraes


Zurique




EM LOUVOR DO FOGO

Um dia chega
de uma extrema doçura:
tudo arde.

Arde a luz
nos vidros da ternura.

As aves,
no branco
labirinto da cal.

As palavras ardem,
e a púrpura das naves.

O vento,

onde tenho casa
à beira do outono.

O limoeiro, as colinas.

Tudo arde

na extrema e lenta
doçura da tarde.


In “Obscuro Domínio”, Eugénio de Andrade

Editorial Inova – 1971


segunda-feira, 2 de setembro de 2024

Falanges


Líbano (google)
    
   O Líbano é, actualmente, um país quase falhado e um refúgio de forças de origens obscuras. Com mais de sete mil anos de civilização, o seu futuro é incerto.
  Li muito, durante a infância e adolescência, o Velho Testamento, pois esse era o hábito na casa da minha avó materna. Pode parecer estranho, mas quem conhece os alentejanos oriundos de Castelos de Vide e proximidades não se admirará. Criei um inegável fascínio pelos belos poemas dos Salmos. Talvez tenha, aí, surgido o meu amor pela poesia e o meu interesse por lugares remotos do mundo.
  Quando comecei a leccionar, tive um colega de Educação Física que pertencera à Legião Estrangeira e estava visivelmente perturbado. Gostava de ouvi-lo falar das ruas de Beirute designando-as pelos nomes e das tantas narrativas dos tempos em que lutara ou vivera nessas geografias. Depois, tinha uma expressão que, só agora, começo a entender:"Quando ali houver um conflito qualquer, perguntem sempre porque ninguém fala da falange cristã libanesa".
    

Cedros no Líbano (Google)

    
"Embora se defina oficialmente como uma organização política secular, a maioria dos seus componentes é cristã maronita. As Falanges estiveram implicadas em numerosos atos de guerra e massacres durante a Guerra Civil Libanesa (1975-1990), a exemplo do massacre de refugiados palestinos, nos campos de Sabra e Shatila." (Wiki) https://pt.wikipedia.org/wiki/For%C3%A7as_Libanesas

    Afinal, por onde andarão os velhos libaneses da minha infância? Fenícios, que um dia cresceriam em Justiça?

    “Os justos florescerão como a palmeira, crescerão como o cedro do Líbano.” (Salmos 92.12)


    Meus amigos, que todas as falanges se apaguem da terra dos velhos fenícios que um dia, também, rumaram à nossa querida Ibéria.




terça-feira, 20 de agosto de 2024

Bilros

 

José Alves

    O bafo quente, destes dias, acolhe-nos e anicha-nos contra o peito ancestral da Terra. O ritmo dos dias altera-se e as noites alongam-se, flácidas como as madrugadas que Cronos habita.
    O amanhecer é suave, como sedas em países longínquos, com negro café em jardins do Mediterrâneo. Cada instante, perene de vida, enreda-nos e atira-nos para memórias velhas e sonhos de novos rumos. 
    Éramos tão jovens, quando, naquele Verão, nos casámos e, aqui estamos, tecendo os birlos do futuro. 


Renda de bilros, Nisa - Alto Alentejo



    A boca,

onde o fogo
de um verão
muito antigo
cintila.
O que pode uma boca
esperar
senão outra boca?

                      Eugénio  de ANDRADE, Obscuro Domínio, 1972.