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Beringelas - Wikimédia |
Assim saberemos que estamos em casa.
Tudo me fala de um hábito antigo, conhecido na mesa da avó Ana: beringelas fritas com ovo; lentilhas; estas sardinhas abertas e panadas; o divinal gaspacho ...
Avó Ana, foste sempre o meu prumo!
Caminhamos a pé até ao monte. O teu vulto negro de viúva. O meu vulto branco de menina.
A três quilómetros, no calor, o monte é uma miragem. A paisagem plana ilude-nos.
Em noventa anos de vida, nunca tiraste as meias, apesar da inclemência do sol. Morena, de olhos negros, as tuas pernas eram branquinhas.
- Vamos, vó, as suas beringelas, ali no jardim, têm um cheirinho tão bom!
O avô era loiro, de olhos azuis, alto...muito alto. Quando me erguia nos ombros, o mundo alargava. O avô morreu e eu fiz-te companhia. Era a única neta, nessa época, a neta mais velha...todavia, todos os primos eram mais velhos que eu. Contraditória a vida.
Hoje comerei beringelas.
Comer é [há-de ser sempre] divino, como nos ensinou Confúcio.
Ana