Rara Avis in Terris, JUVENAL, Sátiras, VI, 165

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

«ESTÃO PODRES AS PALAVRAS....»

RTP1



Estão podres as palavras - de passarem
por sórdidas mentiras de canalhas
que as usam ao revés como o carácter deles.
E podres de sonâmbulos os povos
ante a maldade à solta de que vivem
a paz quotidiana da injustiça.
Usá-las puras - como serão puras,
se caem no silêncio em que os mais puros
não sabem já onde a limpeza acaba
e a corrupção começa? Como serão puras
se logo a infâmia as cobre de seu cuspo?
Estão podres: e com elas apodrece a mundo
e se dissolve em lama a criação do homem
que só persiste em todos livremente
onde as palavras fiquem como torres
erguidas sexo de homens entre o céu e a terra. 


Jorge de SENA

2 comentários:

Andradarte disse...

Não vi o programa....
Beijo

Anónimo disse...

Olá Ana

Não vi o «Prós & Contra»

Limito-me a apreciar o poema do Jorge de Sena.
Eloquente.
Veemente.
À época, visaria um modelo de sociedade cuja degradação, o 25 de Abril e a Democracia garantiriam jamais poder repetir-se.

O poema mantem-se actual.

A nossa ilusão terá sido temerária.

A crise de representatividade é tremenda.

Bjs