Rara Avis in Terris, JUVENAL, Sátiras, VI, 165

segunda-feira, 23 de julho de 2012

A Flor

BNL - espólio D08 (Almada Negreiros

Pede-se a uma criança. Desenhe uma flor! Dá-se-lhe papel e lápis. A criança vai sentar-se no outro canto da sala onde não há mais ninguém.

Passado algum tempo o papel está cheio de linhas. Umas numa direcção, outras noutras; umas mais carregadas, outras mais leves; umas mais fáceis, outras mais custosas. A criança quis tanta força em certas linhas que o papel quase que não resistiu.
Outras eram tão delicadas que apenas o peso do lápis já era demais.
Depois a criança vem mostrar essas linhas às pessoas: uma flor!
As pessoas não acham parecidas estas linhas com as de uma flor!
Contudo, a palavra flor andou por dentro da criança, da cabeça para o coração e do coração para a cabeça, à procura das linhas com que se faz uma flor, e a criança pôs no papel algumas dessas linhas, ou todas. Talvez as tivesse posto fora dos seus lugares, mas, são aquelas as linhas com que Deus faz uma flor!

Almada Negreiros



Penso, muitas vezes, neste poema de Almada Negreiros quando, como agora, vejo o desnorte na Educação. Alguém pensará no delicado e complexo processo que se exige ao aprendiz? 

Ana 

5 comentários:

Jorge disse...

Amiga Ana,
Estamos a viver uma época em que tudo acontece muito depressa.
Só posso dizer que, neste momento, sofremos de uma falta de educação e sensibilidade.
Abr
J

Patrick Jane disse...

Adorei este post! Já pensei algumas vezes nisto, por vezes as crianças expressam-se de uma maneira bastante própria e nós somos incultos o suficiente para perceber isso! gostei e vou seguir!

sofia disse...

Gostei realmente deste post.

Enquanto não se aperceberem das graves consequências que o desinteresse pela Educação pode causar a todos os níveis não vão parar de fazer o que estão a fazer.

beijinhos*

Sonhadora (Rosa Maria) disse...

Minha querida Ana

E são as escolas que formam tantas vidas e infelizmente não se dá o devido valor à educação.

Um beijinho com carinho
Sonhadora

Bípede Implume disse...

Querida Aninha
Um excelente tema para discutir e um dos meus favoritos.
Há um desnorte abissal. Primeiro na educação não se deviam contar os tostões. Formar os nossos homens e mulheres de amanhã devia ser obra primordial. E quando digo formar, é tudo o que de bom a palavra encerra. Feito isto, tudo se tornaria mais fácil... até governar um País.
Li sobre os incêndios em Ponte de Sôr. Conheci muito bem a Tramaga, Galveias e mais outras aldeias perto. Há uma com um nome que nâo esqueço:Águas de Todo Ano.
Os incêndios são uma tragédia. Já passei por dois bem perto de casa. Sei bem do sofrimento.
Com alguma resignação lá vamos aguentando tudo isto...
Beijinhos, amiga.
Isabel
Beijinhos