"Nascido precisamente ao bater da meia-noite, no exato momento em que a Índia se tornava independente, Saleem Sinai é uma criança especial. No entanto, esta simultaneidade de nascimento tem consequências para as quais ele não está preparado: poderes telepáticos ligam-no a outros 1000 «filhos da meia-noite», todos eles dotados de dons extraordinários. Indissociavelmente ligada à sua nação, a história de Saleem é um turbilhão de desastres e triunfos que espelha o percurso da Índia moderna na sua forma mais impossível e gloriosa. Publicado em 1981, Os Filhos da Meia-Noite, segundo romance de Rushdie, não só deu notoriedade ao seu autor como se tornou num fenómeno de êxito literário.
A sua adaptação ao cinema é o resultado da colaboração da realizadora Deepa Mehta com o próprio Salman Rushdie, que não só escreveu o argumento como dá também voz ao narrador."
Considerado um escritor do realismo fantástico, na linha de Gabriel García Marques, Günter Grass, Italo Calvino, Jorge Luís Borges e tantos outros grandes autores...é visto pelo islamismo radical apenas como alguém que abandonou a sua crença muçulmana e, como tal, deverá ser morto. É este o tempo estranho em que vivemos.
O livro que escolhi para hoje foi o que mais gostei de ler. Não li todos e muito menos os seus ensaios, mas posso defini-lo como um grande autor. A sua obra de ficção é vasta (https://www.salmanrushdie.com/books/). Aos 75 anos não merecia ser o objecto da violência. Violência é sempre isso mesmo, sejam quais forem as suas motivações. É um pensador, coisa rara no mundo actual em que tantos espartilhos nos condicionam.
Tenho amigos de todos os credos. A religião é algo íntimo e de outro domínio. Há quem dite que só a Fé nos salvará, eu prefiro acreditar que só a tolerância o poderá fazer. Como poderemos habitar este planeta, se não soubermos respeitar cada indivíduo?
O medo colectivo parece tomar conta de todos, como no célebre poema de Drummond de Andrade (1940):
"Congresso Internacional do Medo
que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos.
Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços,
não cantaremos o ódio porque esse não existe,
existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro,
o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos,
o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas,
cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas,
cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte,
depois morreremos de medo
e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas."
A nossa época parece dominada por um Medo que vai alastrando e que tudo contamina, terreno fértil para todos os horrores que a Humanidade tem a obrigação de conhecer pois, de muitas formas semelhantes, já os viveu.
Sabemos, com Drummond, que este não é o tempo do lirismo - por mais belo que seja, o puro gozo estético não nos salvará!