Rara Avis in Terris, JUVENAL, Sátiras, VI, 165

terça-feira, 13 de setembro de 2022

Desesperos...



Maluda, Alentejo


    Li desesperadamente, daquela forma quase alucinada que me entope o cérebro, tolda o raciocínio e distancia as emoções...sempre foi assim, nos ásperos dias de Agosto. Gosto de refugiar-me e de encontrar resguardo nos dias rectilíneos de cores e traços duros que a mão de Maluda captou como ninguém. A minha mãe morreu durante o ano lectivo anterior...ainda carrego o luto e o negro.
    O meu íntimo suaviza-se na dureza, já o sabes! Gosto de resvalar até ao meu limite, para recomeçar com um sorriso sereno. Assim se acomodam as emoções, se guarda a melancolia das perdas imensas que este ano me tem trazido.
    Nestes processos o Sul Sereno cala-se. É preciso que feche os poros emocionais todos e me exija os limites, para prosseguir. Quando, na juventude, pratiquei atletismo, correndo a meia distância, tinha essa mesma sensação: controlar-me, superar-me e fortalecer-me no suor do meu cansaço autoimposto. 
    Está, assim, recuperada a capacidade para sublimar a dor da perda e do luto e voltar a pisar a sala de aula com o leve sorriso e a exigência de sempre. Se me exijo, exijo-te! Só assim poderá ser... há anos a aluna Cátia chamava-me, carinhosamente, "a minha atleta", mas ela não sabia disto. Até hoje, interrogo-me qual seria o motivo...

Eléctrico de Ponte de Sor (treinando)

15 comentários:

Majo Dutra disse...

Já passei pela mesma dor...
No meu caso, não havia doença, foi por acidente. Muito chocante!
Sim, é preciso superar, custe o que custar.
Ana, desejo-te um bom ano letivo, repleto de bons momentos. Beijos
~~~~~~~~

Olinda Melo disse...


Querida Ana

Absorvo este teu desabafo como se me
saísse de dentro. Já passei por momentos
semelhantes.
Retemperando forças e preparando-te para
enfrentar as exigências do quotidiano,
desejo que neste ano lectivo tudo corra
pelo melhor.
Beijinhos
Olinda

Elvira Carvalho disse...

É difícil comentar um texto em que o autor/a pôs a alma a nu, mostrando a dor que padece.
Deixo um abraço. E saio em silêncio.

Rogério G.V. Pereira disse...

Sem desespero... assinalo a data da minha perda
porque, tal como tu encontro equilíbrio no resvalar até ao meu limite, para recomeçar com um sorriso sereno. Assim se acomodam as emoções, se guarda a melancolia das perdas imensas que estes anos me tem trazido.

Queres contar um conto meu numa aula tua?

Sonhadora (Rosa Maria) disse...

Minha querida Ana... Deixo um beijinho apenas com muito carinho

Caderrno de San disse...

Retempera-te, Ana! A vida exige de cada um de nós superação. E como o atleta, você sabe o que é a superação nas provas e na preparação para as provas. E o recomeço do ano letivo é um bom caminho. Retempera-te! Estarás renovada!
Beijo,

Majo Dutra disse...

Querida Ana, venho agradecer o apoio e incentivo que me deixou
no meu blogue de poesia e hoje no A Vivenciar.
Quero pedir desculpa pelo pleonasmo do comentário anterior, acontece
quando estou cansada. Desta vez, ficou um ''bom... bom...''
Força e sucesso em dias agradáveis. Beijinho
~~~~~~~~~~~~

J.P. Alexander disse...

Hay veces que el dolor desborda y aun seguimos poco a poco. A pesar de todo Te mando un beso.

Graça Pires disse...

Bom dia Ana! Qualquer perda é irremediável, principalmente a de uma mãe. Que tenha coragem e continue, por dentro de si, a atleta que já foi, a superar distâncias e obstáculos. A pintura da Maluda é tão bela!
Tudo de bom para si, minha Amiga.
Um beijo.

São disse...

A dor, temos que a viver toda ... só depois avançamos.

Solidário e estreito abraço, Aninhas, com voto de pacífico ano lectivo .

Jaime Portela disse...

Eu só conheço o seu lado atlético com as palavras. Que é suave e forte, cadenciado como na corrida dos 1.000 ou 5.000 metros e de passo resoluto.
Por isso, penso que ultrapassará mais este obstáculo.
A pintura que escolheu é sublime.
Boa semana, amiga Ana.
Beijo.

Luiz Gomes disse...

Boa tarde minha querida amiga Ana. Passando para desejar uma excelente semana.

Janita disse...

Eu, que passei recentemente por uma fase em que tudo me comovia, pensei ter chorado tudo, por muito tempo.
Mal sabia eu que ao entrar na serenidade do Sul Sereno, ainda não me havia comovido o bastante. Mais do que a dor da perda, tocou-me essa força de treinar a vida a corta-mato, alheia a tudo o que não seja prosseguir o seu caminho por mais obstáculos que lhe surjam.
Obrigada, querida Ana, pelo exemplo de força de vontade e de coragem.

Um grande beijinho.

Fá menor disse...

As dores são passagens que têm de se atravessar. Que não seja demorada a travessia.

Abraço, amiga Ana!

Maria João Brito de Sousa disse...

Perdi a minha única irmã há exactamente dois anos. Fiz o meu luto escrevendo, ou melhor continuo a fazê-lo escrevendo.

Um forte e solidário abraço, Ana!