Bettina Baldassari |
Lembro-me daqueles dias silenciosos e da rua detrás. Já fazia frio, mas que importava? Histórias de mundos longínquos povoavam-me a mente. Quimeras, marajás, gente deslumbrante que levitava sobre tapetes. Um dia eu iria a esses lugares! Levada por sonhos, voraz na leitura, só os meus amigos silenciosos me acompanhavam pacientemente. Se me chamassem para dentro, pelo frio da aragem ou por a mesa estar posta, lá me erguia e eles também, com a vivacidade ágil e juvenil de antanho.
Onde choveram as pérolas cristalinas desses dias? Que sombra ou que cansaço se inundou de tantas partidas? Que Deus cruel soprou as poeiras dos desertos?
Estoicamente aqui estamos! Na distância troam as guerras e são tantas...já caminhámos por tantos desses lugares e, por ali, amámos Epicuro, mesmo sabendo como o sangue dos homens se espraiou no horizonte. A nossa existência nunca foi de facções, de matilhas barulhentas ou de folias hedonistas. Reparaste que eu sorria e, aquelas mulheres longínquas, me sorriam de volta. Isto sempre te encantou e sou feliz por ter essa arma serena. Vamos para ser e estar, para conhecer uma remota origem comum. Vamos em busca dessa Humanidade que se fragmenta e que sonháramos herdeira de um destino comum e harmonioso.
Ana