Pablo Picasso – Garota em frente ao espelho, 1932 |
Depus a máscara e vi-me ao espelho. —
Depus a máscara e vi-me ao espelho. —
Era a criança de há quantos anos.
Não tinha mudado nada...
É essa a vantagem de saber tirar a máscara.
É-se sempre a criança,
O passado que foi
A criança.
Depus a máscara e tornei a pô-la.
Assim é melhor,
Assim sou a máscara.
E volto à personalidade como a um terminus de linha.
18-8-1934
Poesias de Álvaro de Campos. Fernando Pessoa. Lisboa: Ática, 1944 (imp. 1993).
- 61.Lapso corrigido segundo: Álvaro de Campos - Livro de Versos. Fernando Pessoa. (Edição crítica. Introdução, transcrição, organização e notas de Teresa Rita Lopes.) Lisboa: Estampa, 1993.
Arroz doce |
Ainda assim é... mesmo que não aprecie minimamente o Carnaval...
Depois de ter estado em Nice e em Veneza, a memória deste dia habita a minha cozinha de infância, algures no Alto Alentejo. Aprecio a simplicidade, a emoção que vem de um tempo remoto a qual se estilhaça, dia após dia, nesta sociedade espectáculo. E... a minha mão alentejana reproduz a tradição...
A máscara da palavra
A máscara da palavra
revela-esconde
o rosto vago
de um sentido mundo
Paraíso acidental
metódico exercício
a máscara da palavra
colou-se ao rosto:
agora é
o nosso mais vital artifício
Com a máscara da palavra
reinventamos
o som da voz amada
que nos inunda
com seu luar de espuma
Ana Hatherly, in A idade da escrita, 1998