Joana de Barros Baptista |
"Dotada de uma visão profundamente humanista, sensibilidade que cultivou ao longo de anos enquanto professora nos ensinos secundário e superior, Joana de Barros Baptista cedo abraçou a ação cívica", recordou a família. (imprensa)
Querida Professora.
Eu sou aquela miúda alentejana que fazia, duas vezes por semana, o percurso de Ponte de Sor até à Faculdade de Letras em Lisboa para assistir às suas aulas de Latim - eram quase seiscentos quilómetros semanais.
Espantou-se de eu ser alentejana, assim tão branca e de olhos claros. Só me reconheceu a determinação silenciosa, quase com ar de fragilidade, que a planície nos confere. Falei-lhe nesta bastardia de tantos invasores que a genealogia comprova e a geografia oculta.
Ic sum , dizia-lhe à entrada. Receio que a voz não escondesse um certo tremor que o medo de falhar sempre acompanha. A velha cave da Faculdade vergava-se ao peso das Línguas Clássicas e, nós, os das Românicas tremíamos na desvantagem que o Latim nos impunha. O nosso amor era feito de Teorias Literárias e de Literaturas. Sei que o adivinhava e a sua voz apressada transitava para a cultura romana, bem mais fascinante.
Nos dias de frequência para avaliação, ía mentalmente declinando palavras, conjugando intrincados verbos e revendo as tantas excepções às inúmeras regras. Ah ... o Latim! Quatro anos de estudo de uma Língua que se vai apagando na memória!
Porém, tinha que me despedir de si, neste dia.
Bem-haja, por ter cruzado o meu caminho.
A Deus, professora Joana de Barros.
Ana Maria
"Joana de Barros Baptista (Lisboa, 16 de setembro de 1935 — Lisboa, 28 de julho de 2024) foi uma professora e defensora dos direitos da mulheres, em Portugal. Participou na criação do primeiro mecanismo oficial para a igualdade entre mulheres e homens, em Portugal. Em 2021, foi condecorada com a Ordem da Liberdade." (Wiki)