![]() |
Enigma de um dia. Giorgio de Chirico.1914 |
Chove copiosamente, como convém ao mês de Janeiro. Alagam-se os campos, molham-se os seres, escorre a lama, ali, onde o Homem contrariou a Natureza e estancou os desígnios do planeta.
Apesar de ter nascido neste mês, numa madrugada de muita chuva, como a minha mãe gostava de recordar, gosto da chuva, mas tenho um medo absurdo do trovão. Sempre que o clima se extrema, sinto essa astrofobia, essa brontofobia irracional.
Assim vão os tempos e os augúrios estão em consonância. Percebemos como o país se alaga e não resiste ao mínimo safanão, numa lama de indignidades diversas e de figuras titereiras.
Heitor e Andromaca. Giorgio de Chirico. 1912 |
Não posso deixar de pensar nesse pintor admirável, nascido grego e feito italiano, quando olho o mundo que nos vai rodeando - ao perto e ao longe - a Humanidade vai perdendo os seus valores, a dignidade da Vida, a empatia, a compaixão e o cuidado...
As máscaras. Giogio de Chirico.1959 |
Homens sem cabeça, num mundo surrealista onde um medievalismo bárbaro vai desumanizando os seres, enquanto a tecnologia avança pelas mãos de génios loucos que reverenciam o poder dos tiranos em proveito próprio e vão distorcendo o Mundo.