Rara Avis in Terris, JUVENAL, Sátiras, VI, 165

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Regressos

Annecy - José Alves 08/09
Não sou deste lugar.
Regressei ao meu país de regressos. Insólito lugar bêbado de luz e de tantos sonhos desordenados. Terra habitada por velhos sem Restelo acocorados à beira de lagos sem futuro. Amargos frutos em fim de Verão boreal - tão doce, tão doce...


Annecy - José Alves 08/09

Encanta-me esta ordem até à amargura.
Na minha terra árida não poderemos desenhar estas cores. Na minha terra quente o declínio parece iminente. Eminências tisnadas secam e secam...e o sol aquece e já não beija. Na minha terra parda os sonhos são metálicos.



Annecy - José Alves 08/09

O pão dos homens fermenta devagar.
Os campos secaram e o deserto instalou-se. Mas, no regresso, sei bem como levedá-lo, enquanto a chama se cala e o forno dos sonhos aquece até perder a cor. Assim, estará pronto.




Annecy - José Alves 08/09


Poderemos regressar...
Ficaram por lá as pontes que no meu país se quebram devagar.


Annecy - José Alves 08/09

Regressos...
Cacofonias e alguns fantasmas permanecem por aqui. Reflexos e brilhos não são, ainda, a realidade.



Annecy - José Alves 08/09

Quero voltar a esta rotina de dias que se somam aos dias pela estrada, pela estrada...e perder o meu olhar pelas coisas mais pequenas. Pasmo a cada ângulo qual menina fascinada.
Eu não sou deste lugar.


Annecy - José Alves 08/09

Sou do sítio dos sonhos ancorados...
Onde os poetas se escondem na penumbra e com Gedeão cantam, ainda, «Dez réis de esperança»...





Annecy - José Alves 08/09

Se não fosse esta certeza
que nem sei de onde me vem,
não comia, nem bebia,
nem falava com ninguém.

Acocorava-me a um canto,
no mais escuro que houvesse,
punha os joelhos à boca
e viesse o que viesse.

Não fossem os olhos grandes
do ingénuo adolescente,
a chuva das penas brancas
a cair impertinente,
aquele incógnito rosto,
pintado em tons de aguarela,
que sonha no frio encosto
da vidraça da janela,
não fosse a imensa piedade
dos homens que não cresceram,
que ouviram, viram, ouviram,
viram, e não perceberam,
essas máscaras selectas,
antologia do espanto,
flores sem caule, flutuando
no pranto do desencanto,
se não fosse a fome e a sede
dessa humanidade exangue,
roía as unhas e os dedos
até os fazer em sangue.



9 comentários:

Juℓi Ribeiro disse...

Ana:


Maravilhoso!
Sentimentos desabrocham em cada frase...
Seu bom gosto se destaca
em suas postagens.
Saudades de você.
Beijo.

Margarida disse...

Gostei especialmente deste!
Beijinhos

http://saia-justa-georgia.blogspot.com/ disse...

Ana, belíssimo. Tanto as imagens como cada poesia em suas palavras.

Um grande beijo

ETERNA APAIXONADA disse...

Querida Ana!

Como meu coração entende bem desses “regressos”...
Obrigada por me permitir sonhar aqui em seu lindo espaço!
E obrigada por ser a minha visitante número 1000, no Sintonias do Coração 2.
A postagem atual lá é sobre esse tema. Passe lá para buscar o selo comemorativo.
Uma linda noite, com meu carinho.
Beijos.

Bípede Implume disse...

Querida Ana
Gosto muito do que tens escrito, mas tenho que confessar que esta postagem está para além de tudo.
O sentimento atingiu em cheio o meu coração bem português.`
Que fazer se não amar, mesmo assim, este nosso cantinho.
As fotografias estão lindas.
Bom fim de semana, amiga.
Bem vinda ao rectângulo.
Beijinhos.
Isabel

Dalva Nascimento disse...

Quanto sentimento nestes versos, Aninha...

Uma noite de paz, querida!

Bjs.

Janaina Amado disse...

Ana, gostei imensamente deste seu post. Já o li 3 vezes - sua prosa é de alta qualidade, e as imagens... maravilhosas. Tudo dá vontade de a aqui regressar :-)

isabella kramer - veredit disse...

Liebe Ana, was für wunderbare Bilder und Gedichte. Ich bin sehr beeindruckt von der Schönheit und dem Eindrücken.

Beijinhos

duarte disse...

ola ana
pas loin une amie m'attends
cela fait deux ans...
belo regresso.
eu cá fico ancorado ás poucas viagens que tuas fotos me lembram.
abraço do vale.