Soube, então, que partirias em breve. Chovia sobre a cidade e as gentes apressadas laboravam progressistas e ordeiras. Partirias, assim, e o teu olhar azul cerrar-se-ia contra este Mediterrâneo...
Os construtores do Templo continuavam obreiros e o cheiro quente do pão entrava na Catedral incompleta. Desconstrução de um gótico antigo. Forma nova e bizarra, «maravilha» de uma arte nova. A Natureza a instalar-se na pedra bruta. E tu serás, em breve, inerte...
As rosas no quintal da avó e o cheiro quente do pão da nossa infância exalam fragrâncias remotas. É Fevereiro e partirás antes das Festas de Maio. Aqui não se cumprirão as tradições. Ninguém colocou máscara. Trabalha-se e o labor não vicia.
Olho em silêncio e deixo-me fascinar. Ainda tenho esse poder de, no silêncio, comandar as emoções. Foi sempre assim. Comovo-me, porque partirás. Gaivotas ao fundo das Ramblas são aviões que não verás partir. E a estátua de Colombo, olhando o porto, será a de Bartolomeu de Gusmão, sob o céu claro de Lisboa, a ver-te chegar.
Desconstrução.
Valham-nos os Construtores do Templo para calar a saudade eterna.
Ana
Fotografias de José Alves: Sagrada Família, Barcelona.
Fotografias de José Alves: Sagrada Família, Barcelona.