Rafal Olbinski |
Lembrei-me hoje de um poema de Miguel Torga.
As notícias do mundo correm velozes e cheias de bravatas, numa espécie de erosão do humanismo que há em nós. Imagens de beleza e exotismo converteram-se em rios de revolta e, de palácios intransponíveis, velhos ditadores ameaçam ainda.
Jovens sem rumo vagueiam nas ruas de ricas cidades ocidentais que parecem caminhar para um qualquer ocaso civilizacional.
Lembrei-me hoje de um documentário da BBC.
Regiões do mundo despertam da letargia de milénios e o planeta, em fúrias súbitas, sacode as cidades do homem. Escombros, vistos do conforto luminoso das nossas salas, tomam a irrealidade de uma ficção distante.
Erguem-se da penumbra os profetas sombrios e falam-nos de um calendário esquecido. Profetizam o fim dos tempos e, quiçá 2012 cumpra o seu termo...
Lembrei-me do que somos: pequenos seres no imensurável Universo, capazes, poderosos no nosso humanismo impoluto!
Assim, aqui vos deixo a «Exortação» e o «Hino ao Homem».
Ana
*****
Em nome do teu nome,
Que é viril,
E leal,
E limpo, na concisa brevidade
— Homem, lembra-te bem!
Sê viril,
E leal,
E limpo, na concisa condição.
Traz à compreensão
Todos os sentimentos recalcados
De que te sentes dono envergonhado;
Leva, dourado,
O sol da consciência
As íntimas funduras do teu ser,
Onde moram
Esses monstros que temes enfrentar.
Os leões da caverna só devoram
Quem os ouve rugir e se recusa a entrar.
Miguel Torga