Rara Avis in Terris, JUVENAL, Sátiras, VI, 165

sábado, 29 de dezembro de 2012

Feliz Ano Gregoriano de 2013



José Alves, Alentejo


Ficção de que começa alguma coisa!
Nada começa: tudo continua.
Na fluida e incerta essência misteriosa
Da vida, flui em sombra a água nua.
Curvas do rio escondem só o movimento.
O mesmo rio flui onde se vê.
Começar só começa em pensamento


Fernando Pessoa




QUE O NOVO ANO SEJA PLENO DE SAÚDE,
 MEUS AMIGOS.


Clique se quer saber mais sobre a Origem e evolução do nosso calendário...





quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Apocalipse...

José Alves, Grécia

Andou perdida a palavra quando viajou para a nossa Língua. Acontece às palavras viajantes perderem-se na semântica da memória dos povos. A Revelação judaica - אפוקליפסה - a que os gregos haveriam de chamar  αποκάλυψις, jamais significou «fim dos tempos». Porque haveria o criador de destruir a sua criatura? Milenarismos e outros atavismos manipulam perigosamente o medo humano, a irracionalidade que cega seres herdeiros do humanismo...

Carl_Larsson
Voltarei, depois, queridos amigos. 
Agora a família vai enchendo a casa e os sonhos de que falarei têm o significado denotativo da palavra...compete-me concretizá-los, para que todos os saboreiem.



Festas Felizes, Meus Amigos!




domingo, 9 de dezembro de 2012

Cada coisa...

google




Cada coisa tem o seu fulgor,
a sua música.
Na laranja madura canta o sol,
na neve o melro azul.
Não só as coisas,
os próprios animais
brilham de uma luz acariciada;
quando o inverno
se aproxima dos seus olhos
a transparência das estrelas
torna-se fonte da sua respiração.
Só isso faz
com que durem ainda.
Assim o coração.


                Eugénio de Andrade


É Domingo, eu sei. Com o sol a esmorecer num dia azul, ibérica escrava dos senhores do império, trabalho ainda.


quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Decadentes milenares

jfrodrigues@stny.rr.com



Traz-me os dias claros, tecidos de fios luminosos. Um frio fino tomou conta do poente. As manhãs cobrem-se de um vítreo polar. Os meus passos estalam no silêncio. Caminho em frente e um turbilhão afunda-se na injustiça invertebrada. Seres de palavras urdem promíscuos arrazoados  obscuros. A mentira sobrevoa as mentes dominadoras e seres plastificados reciclam-se a cada instante. 
Traz-me os dias claros que a revolta já domina e as manhãs de orvalho crescem no rumor da bruma.

Ana

sábado, 1 de dezembro de 2012

Da memória histórica ...após quase 870 anos

José Alves, Fronteira, Alentejo

Confesso, hoje, a minha tristeza e revolta. 
Tristeza, pois faz hoje anos que a minha querida avó Ana partiu para sempre.
Revolta, porque sem orgulho vos revelo que levei quatro anos da minha vida a construir uma dissertação sobre André Rodrigues de Matos, académico, poeta e tradutor que me ensinou, de perto e com algum sofrimento o estro restaurador. 
Poderia, pois, deixar aqui palavras bonitas sobre o tema, eivadas da afectividade que a data me evoca. Poderia, talvez, tentar um poema...
A avó partiu serena, enquanto dormia, aos 91 anos e é-me suave a sua recordação.

A revolta é o que me resta, neste 1.º de Dezembro em que, como povo, abdicamos oficialmente da memória. Não, não me incomodam os castelhanos...

Ana


sábado, 24 de novembro de 2012

Hino à Razão


Rapto de Europa, Fresco em Pompeia

Razão, irmã do Amor e da Justiça,
Mais uma vez escuta a minha prece.
É a voz dum coração que te apetece,
Duma alma livre, só a ti submissa.

Por ti é que a poeira movediça
De astros e sóis e mundos permanece;
E é por ti que a virtude prevalece,
E a flor do heroísmo medra e viça.

Por ti, na arena trágica, as nações
Buscam a liberdade, entre os clarões;
E os que olham o futuro e cismam, mudos,

Por ti, podem sofrer e não se abatem,
Mãe de filhos robustos, que combatem
Tendo o teu nome escrito em seus escudos!


Antero de Quental


Desde menina que gosto de decorar poemas de Antero. Há na sua poesia, como na de Herculano, um tom elevado que me atrai profundamente, como se as palavras conservassem ainda o valor do Ideal.
No cinzentismo desde dia e destes tempos, só Antero me inspira ainda, mesmo se lendo notícias por aí as vejo ilustradas assim:


Hélas!

Ana


quarta-feira, 21 de novembro de 2012

@migos

José Alves


O mês de Novembro pode ser muito triste. Tem brumas e sonhos e frios inesperados. Tem luzes e sombras que tudo cobrem de surpresa. E tem dias cinzentos que se alojam no mais profundo de nós.
@migos vêm até nós, sem rosto, sorrindo. Depois, partem para sempre. Um dia partiu os Cesc (http://cescginesta.blogspot.com) da sua Catalunha natal. Agora partiu Christine (http://alzira.canalblog.com)...através dela conheci recantos de Bruxelas, como só o seu olhar podia retratar.
Ficamos, então, a sentir que a Amizade existe para lá do rosto e do encontro físico. A fraternidade está onde colocamos o nosso coração.

A vida é frágil, mas perfumada como os meus jasmins outonais.

Cultivemos, pois, a @mizade, meus queridos amigos.

José Alves

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

O Profeta e os homens

Ismail Shamut, Palestina


NA CASINHA DA RUA HALAFTA

Na casinha da Rua Halafta
as tardes passam tranquilamente.
Amigos vêm, partem e sabem ao odor da mirra.
Na copa da palmeira há uma coroa de chuva transparente.
As rosas quase que irrompem para dentro de casa.
E nestas tardes de infinito outono, estou sempre no terraço,
a observar as luzes de Talpiot em frente,
pensando em que estações estarás agora, 
e em como desapareceste, como transcorreu a vida.

 Rami Saari (Israel)

*****

ELE É CALMO E EU TAMBÉM

Ele é calmo,
E eu também.
Ele bebe chá de limão,
e eu bebo café.
(esta é a única coisa diferente entre nós)
Ele, como eu, usa uma camisa folgada básica
E eu olho, como ele, para uma revista mensal.
Ele não me vê enquanto eu o olho discretamente;
Eu não o vejo enquanto ele me olha discretamente.
Ele é calmo,
E eu também.
Ele pede algo ao garçon;
Eu peço algo ao garçon.
Um gato preto passa entre nós,
E eu toco sua noite de pêlos;
Ele toca sua noite de pêlos.
Eu não digo: «o céu está claro hoje,
mais azul»;
Ele não me diz: «o céu está claro hoje.»
Ele é o visto e o que vê;
Eu sou o visto e o que vê.
Eu movo minha perna esquerda;
Ele move sua perna direita;
Eu balbucio a melodia de uma canção;
Ele balbucia a melodia de uma canção.
Eu penso: «Ele é o espelho onde eu me vejo?»
Então eu olho-o  nos olhos e não o vejo.
Deixo o Café com pressa.

Penso: talvez ele seja um assassino,
ou talvez seja apenas um homem passando
e eu seja um assassino.

Mahmoud Darwish (Palestina)


 David Gerstein, Israel



segunda-feira, 12 de novembro de 2012

You Are Welcome To Elsinore

 Pawla Kuczynskiego

Entre nós e as palavras há metal fundente
entre nós e as palavras há hélices que andam

e podem dar-nos morte violar-nos tirar
do mais fundo de nós o mais útil segredo
entre nós e as palavras há perfis ardentes
espaços cheios de gente de costas
altas flores venenosas portas por abrir
e escadas e ponteiros e crianças sentadas
à espera do seu tempo e do seu precipício


Ao longo da muralha que habitamos
há palavras de vida há palavras de morte
há palavras imensas, que esperam por nós

e outras, frágeis, que deixaram de esperar
há palavras acesas como barcos
e há palavras homens, palavras que guardam
o seu segredo e a sua posição


Entre nós e as palavras, surdamente,
as mãos e as paredes de Elsinor


E há palavras nocturnas palavras gemidos
palavras que nos sobem ilegíveis à boca
palavras diamantes palavras nunca escritas
palavras impossíveis de escrever
por não termos connosco cordas de violinos
nem todo o sangue do mundo nem todo o
amplexo do ar
e os braços dos amantes escrevem muito alto
muito além do azul onde oxidados morrem
palavras maternais só sombra só soluço
só espasmo só amor só solidão desfeita


Entre nós e as palavras, os emparedados
e entre nós e as palavras, o nosso dever falar



                                                             Mário de Cesariny

Pawla Kuczynskiego

sábado, 10 de novembro de 2012

Persona non grata

António Reyna Manescau


Os tempos difíceis do Sul não destroem a alma das minhas gentes.
Há nas chuvas e no frio o rumor do vento que se espalha na planície. O rigor dos dias agitados não nos tornou tagarelas. As palavras têm a medida necessária. Sabemos que a explosão se tece no silêncio e que o frágil equilíbrio é o segredo de uma vida serena. 
Assim, não organizem tardias cruzadas do sacro império romano germânico, velho e usurpado primeiro primeiro Reich, porque a vossa força não impedirá o eclodir do suão.

Ana



Prémio Dardos 2012....




RARA AVIS foi contemplado pelo Prémio Dardos 2012, pelo amigo:
 muito obrigado pela partilha.


O Prémio Dardos, prestigiado no mundo dos blogues reconhece o mérito diário a cada blogger que com amor e dedicação faz espalhar o seu conhecimento e criatividade, tornando-o disponível para todos na Web.

As regras para participação são as seguintes:
1. Exibir a imagem do selo no blogue

2. Expor o link do blogue de quem recebeu o prémio

3. Escolher outros blogues para receber o Selo Dardos

4. Avisar os escolhidos

Por motivos de não descriminar nenhum dos amigos dos blogs seguidores, que
com as suas visitas e comentários têm contribuído para a motivação e criatividade do meu modesto espaço  terei que quebrar a 3.ª regra, ou seja, não escolher apenas 15 blogues, mas partilhar o referido prémio com todos os meus amigos seguidores. O Prémio também é vosso....


segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Ah, abram-me outra realidade!

Aquiles Rondan, pintor peruano



(Álvaro de Campos)

Ah, abram-me outra realidade!
Quero ter, como Blake, a contiguidade dos anjos
E ter visões por almoço.
Quero encontrar as fadas na rua!
Quero desimaginar-me deste mundo feito com garras,
Desta civilização feita com pregos.
Quero viver como uma bandeira à brisa,
Símbolo de qualquer coisa no alto de uma coisa qualquer!
Depois encerrem-me onde queiram.
Meu coração verdadeiro continuará velando
Pano brasonado a esfinges,
No alto do mastro das visões
Aos quatro ventos do Mistério.
O Norte — o que todos querem
O Sul — o que todos desejam
O Este — de onde tudo vem
O Oeste — aonde tudo finda
— Os quatro ventos do místico ar da civilização
— Os quatro modos de não ter razão, e de entender o mundo
4-4-1929
Álvaro de Campos - Livro de Versos . Fernando Pessoa. (Edição crítica. Introdução, transcrição, organização e notas de Teresa Rita Lopes.) Lisboa: Estampa, 1993. 
 - 99.

Ler mais em:


Persi Narvaez, pintor peruano



quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Refundação...

Levi van Veluw's


Dias curtos. Excesso de trabalho. Mariposas que esvoaçam fúteis e breves. Cacofonias. Dias curtos. Rostos tristes que o Verão tisnou e agora envelhecem já sem brilho. Prematuras velhices de onde a esperança juvenil se escapou. 
Gente que protesta. Velhos que tremem. Adultos que temem.
Lugares vazios acolhem os primeiros frios. Fugazes silêncios. A coragem que foge. A esperança que se afasta. Nefasta linguagem, também destruída. A vida fragmentada. Estilhaçado o sonho.
O medo. A ignorância, lugar do secreto para ser habitado. Cacofonias. Dias curtos. Fragmentos. 
País antigo. Já não somos, habitamos aqui.

Ana

domingo, 28 de outubro de 2012

O Poder das Corporações


«Industrial Worker», 1911



«Mas a realidade é esta: não temos um projecto de país. Vivemos ao deus-dará, conforme o lado de que o vento sopra. As pessoas já não pensam só no dia-a-dia, pensam no minuto a minuto. Estamos endividados até às orelhas e fazemos uma falsa vida de prosperidade. Aparência, aparência, aparência - e nada por trás. Onde estão as ideias? Onde está uma ideia de futuro para Portugal? Como vamos viver quando se acabarem os dinheiros da Europa? Os governos todos navegam à vista da costa e parece que ninguém quer pensar nisto, ninguém ousa ir mais além.»

José SARAMAGO, in "Entrevista" à revista Visão, 2003


segunda-feira, 22 de outubro de 2012

IN VINO VERITAS

Dinamarca

Eu não sabia ainda que havia na distância um país chamado Dinamarca. Nem conhecia essa gente feliz debruçada sobre as frias águas. Na minha terra as ruas eram de cubos de granito quente, pois o sol torrava os longos dias de Verão. Era criança. Alguns meninos corriam descalços e outros tinham sandálias de plástico castanho. As minhas meias eram curtas e brancas, feitas por habilidosas mãos de mulheres, e magoavam-me os pés...
A carrinha chegava e eu corria até ao Largo das amoreiras, onde o  único táxi esperava festas e urgências. A desengonçada da carrinha era cinzenta e, dentro dela, bucho cheio de livros aos solavancos. Os dias longos eram de leitura aditiva. Os olhos percorriam, encantados, linha após linha e, amiúde, uma necessidade de cheirar a obra entreaberta impunha-se em intervalos. Foi assim que, aos catorze anos, conheci Soren Kierkegaard e a sua inquietação. Li com obsessão o Banquete (in vino veritas) e ouço até hoje a conversa crepuscular e as rolhas em estalidos. Nasceu aí um desespero consciente, uma crença sólida no humano, uma busca existencial sem tréguas.



Vale de Açor, Ponte de Sor

Percorri, depois, muitos trilhos. Nenhuma distância é temível na extrema solidão dourada da planura. Leio, agora, em castelhano, do mesmo autor, La Enfermedad Mortal, e penso no meu país natal.  
«Aqui estamos perante o imediato com uma reflexão simplesmente quantitativa. Aqui não há consciência infinita do eu, do que é a desesperação, nem da natureza desesperada em que cada um se encontra, aqui desesperar é, simplesmente, sofrer.».

Sim, eu sei que extrapolo, que socializo a íntima inquietação e o desespero existencialista de um autor frustrado, diria mesmo, oprimido pela crença empedernida de seu pai. Porém, em dia chuvoso, relendo Kierkegaard, neste cinzento país de crenças confusas, só vos posso falar de um abismo íntimo aonde a fé e a identidade se perdem em diálogos antigos.

Ana


sábado, 20 de outubro de 2012

sábado, 13 de outubro de 2012

Rainha de Portugal

Vaticano, José Alves 

Aquela que eu fui nunca decorou credos nem cânticos.


Cabeção, José Alves

O descampado sempre trouxe o eco e o balir manso dos rebanhos e levou dispersas nuvens para a distância azul infinita, rasgada por aves de rapina. Aquela que eu fui vai, agora, na peregrinação íntima, rumo ao lugar onde se guardam as pedras angulares que os construtores desprezaram há muito.


Belmonte, José Alves

Sabe que nunca chamará Deus por um nome, pois a sua divindade excede a linguagem tangível das metáforas humanas. Aquela que eu fui conhece lugares que os credos habitam, mas varou a planície e subiu às montanhas ouvindo sermões da religião nova.


Grécia, José Alves

 Pisou os caminhos, em noites de Inverno, estalando a folhagem que as botas calcavam. Pronta a partir, sabendo que, em qualquer lugar, os olhares guardam ainda o brilho da Humanidade.
Aquela que eu sou habita o silêncio e sabe que os seres se refugiam no medo, mistério tremendo, arquitecto secreto da fé destes homens. Num lugar distante, talvez ainda encontre a secreta mensagem, inviolável, porém.


Mar Egeu, José Alves

Filha da Ibéria, herdeira do Mediterrâneo, virada para sul, bem pode o filósofo clamar-me hiperbórea (engana-se outra vez). Não me atraem druídas, nem bosques encantados.

José Alves

Tu, celebra o fim das colheitas, que o outono acolhe. Nome de mulher, fenómeno de luz, filha de Maomé com beleza sublime, desfia o luar não cegues os homens.
 Homem, responsável, não mintas assim que o velho Deus - se crês - te ouve!

 Este é o Reino, esta é a Hora.


Ana


*Especialmente dedicado ao cardeal patriarca de Lisboa que, em Fátima, falou de forma ignóbil, tornando ainda mais controversa a velha expressão: ««Dai, pois, a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus.» (Mateus 22:21)[1] (em grego:Ἀπόδοτε οὖν τὰ Καίσαρος Καίσαρι καὶ τὰ τοῦ Θεοῦ τῷ Θεῷ). O episódio aparece em Lucas 20:20-26Mateus 22:15-22 e Marcos 12:13-17.», wiki

http://www.jn.pt/PaginaInicial/Sociedade/Interior.aspx?content_id=2825411

domingo, 7 de outubro de 2012

Portugal, grau zero.

Vasily Polenov
Vasily Polenov



segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Crenças

Vasily Polenov

Já houve um tempo assim. Tu e eu sonhávamos uma simplicidade ancestral de homens - irmãos. Como sempre, eu falava-te do ascetismo, da contenção, do olhar luminoso. O Mediterrâneo acolhia a nossa identidade e o nosso peito arfava feliz por respirarmos estes ares. Os homens olhavam-se de frente e no pergaminho dos seus rostos enrugados podíamos ler-lhes a história. Decerto que houve lutas e rixas, guerras maiores e ciúmes antigos. Decerto as mulheres caminhavam cansadas calcando o pó dos caminhos...mas tu e eu conhecíamos as manhãs brumosas e húmidas que acordavam em dias luminosos, quentes, outonais.
Tu e eu ainda estamos aqui.


Ana


domingo, 30 de setembro de 2012

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Vários são os caminhos ...

Caminha, José Alves



Acordai

acordai
homens que dormis
a embalar a dor
dos silêncios vis
vinde no clamor
das almas viris
arrancar a flor
que dorme na raíz

Acordai
acordai
raios e tufões
que dormis no ar
e nas multidões
vinde incendiar
de astros e canções
as pedras do mar
o mundo e os corações

Acordai
acendei
de almas e de sóis
este mar sem cais
nem luz de faróis
e acordai depois
das lutas finais
os nossos heróis
que dormem nos covais
Acordai!

José Gomes Ferreira



http://pt.wikipedia.org/wiki/Jos%C3%A9_Gomes_Ferreira


terça-feira, 18 de setembro de 2012

Maria Teresa Horta

Google

A minha homenagem à mulher que soube dizer «não» e mantém um olhar límpido!


A escritora Maria Teresa Horta, distinguida com o Prémio D. Dinis pelo romance “As Luzes de Leonor”, disse esta terça-feira à Lusa que não o aceita receber das mãos do primeiro-ministro, conforme o previsto.
A entrega do Prémio D. Dinis esteve agendada para dia 28, sexta-feira da próxima semana, numa cerimónia com a presença do primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho.


“Na realidade eu não poderia, com coerência, ficar bem comigo mesma, receber um prémio literário que me honra tanto, cujo júri é formado por poetas, os meus pares mais próximos - pois sou sobretudo uma poetisa, e que me honra imenso -, ir receber esse prémio das mãos de uma pessoa que está empenhada em destruir o nosso país”, explicou Maria Teresa Horta à Lusa.



“Sempre fui uma mulher coerente; as minhas ideias e aquilo que eu faço têm uma coerência”, salientou a escritora que acrescentou: “Sou uma mulher de esquerda, sempre fui, sempre lutei pela liberdade e pelos direitos dos trabalhadores”.



Para Maria Teresa Horta, “o primeiro-ministro está determinado a destruir tudo aquilo que conquistámos com o 25 de Abril [de 1974] e as grandes vítimas têm sido até agora os trabalhadores, os assalariados, a juventude que ele manda emigrar calmamente, como se isso fosse natural”.



A autora afirmou que “o país está a entrar em níveis de pobreza quase idênticos aos das décadas de 1940 e 1950 e, na realidade, é ele [Passos Coelho], e o seu Governo, os grandes mentores e executores de tudo isto”.



“Não recuso o prémio que me enche de orgulho e satisfação, recuso recebê-lo das mãos do primeiro-ministro”, deixou claro Maria Teresa Horta.



A escritora disse que já informou a Fundação Casa de Mateus da sua decisão, assim como a sua editora e falou com cada um dos membros do júri.



A premiada salientou ainda a “satisfação” que lhe deu ter sido distinguida “por um júri que representa três gerações de poetas: o Vasco Graça Moura que é da minha [geração], o Nuno Júdice, que é da seguinte, e o Fernando Pinto do Amaral, que é a mais nova”.



No sítio da Fundação Casa de Mateus, na Internet, é afirmado que “a sessão solene de entrega do Prémio será agendada brevemente”.



O Prémio Literário D. Dinis, instituído pela Fundação da Casa de Mateus, foi atribuído por unanimidade à escritora, pela obra “As luzes de Leonor. A marquesa de Alorna, uma sedutora de anjos, poetas e heróis”, editado pelas Publicações D. Quixote.



Instituído em 1980 pela Fundação Casa de Mateus, em Vila Real, o galardão é atribuído a uma obra literária - de poesia, ensaio ou ficção - publicada no ano anterior ao da atribuição do prémio.



“As Luzes de Leonor”, obra editada em 2011, é um romance sobre a vida da marquesa de Alorna, Leonor de Almeida Portugal de Lorena e Lencastre (1750-1839), neta dos marqueses de Távora, uma mulher que se destacou na história literária e política de Portugal num período denominado como “o século das luzes”.



D.ª Leonor de Lorena e Lencastre é avó em quinto grau de Maria Teresa Horta, nascida em 1937, em Lisboa.



Maria Teresa Horta estudou na Faculdade de Letras de Lisboa, foi jornalista e activista do Movimento Feminista de Portugal, com Maria Isabel Barreno e Maria Velho da Costa, com quem escreveu o livro “Novas Cartas Portuguesas”.



“Amor Habitado” (1963), “Ana” (1974) e “O Destino” (1997) contam-se entre mais de duas dezenas de obras publicadas da escritora.»


Jornal, «Público»