Mediterrâneo, José Alves |
«Para
Cândido Portinari
«Menino com carneiro», 1953 - Portinari |
Vejo sangue no ar, vejo o piloto que levava uma flor para a noiva, abraçado com
a hélice. E o violinista em que a morte acentuou a palidez, despenhar-se com
sua cabeleira negra e seu estradivárius. Há mãos e pernas de dançarinas arremessadas
na explosão. Corpos irreconhecíveis identificados pelo Grande Reconhecedor.
Vejo sangue no ar, vejo chuva de sangue caindo nas nuvens batizadas pelo sangue
dos poetas mártires. Vejo a nadadora belíssima, no seu último salto de
banhista, mais rápida porque vem sem vida. Vejo três meninas caindo rápidas,
enfunadas, como se dançassem ainda. E vejo a louca abraçada ao ramalhete de
rosas que ela pensou ser o paraquedas, e a prima-dona com a longa cauda de
lantejoulas riscando o céu como um cometa. E o sino que ia para uma capela do
oeste, vir dobrando finados pelos pobres mortos. Presumo que a moça adormecida
na cabine ainda vem dormindo, tão tranqüila e cega! Ó amigos, o paralítico vem
com extrema rapidez, vem como uma estrela cadente, vem com as pernas do vento.
Chove sangue sobre as nuvens de Deus. E há poetas míopes que pensam que é o
arrebol.»
Jorge de Lima (1893-1963)
Alpes franceses, José Alves |
9 comentários:
Tantas vidas perdidas!
não mais serão recuperadas
tantas lágrimas por elas caídas
na terra, com sangue misturadas.
Pensar ou não no que pode acontecer,
não evita que aconteça
tem muita força o que tem de ser
mas não para evitar a dor e a tristeza?
Tenha uma boa tarde amiga Ana, um beijo,
Eduardo.
Oi, Ana!
Que tragédia! Triste saber que tantas pessoas morreram em um mesmo lugar! Daí uma criança perguntar sobre o acidente e se admirar quando ela questiona "Muito mais pessoas estão morrendo em volta da terra nessa hora"
São para nós, pessoas sem rostos e fica mais latente a dor, quando parentes e amigos são entrevistados. A morte existe, mas não deveria nos pegar de assalto.
Beijus,
Por cá o povo é quem mais ordenha
Que quem partiu tenha Luz e que quem ficou consiga serenidade!
Amiga, um grande beijo
Amiga Ana, fico sempre sem palavras para comentar uma tragédia tão grande.
Penso nas famílias e dá-me um aperto no peito.
Beijinho comovido
Fê
~
~ ~ O texto de Pires de Lima parece, mesmo, uma recriação
poética deste acidente nos Alpes franceses!
~ ~ Bela e sensível, a homenagem que fez a tantas vítimas
mortais de um acidente que nos abalou emocionalmente.
~ ~ ~ Boas férias. ~ ~ ~
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Merecidíssimo e oportuníssimo post!
beijo amigo
Um texto tão realista. Quem sabe o que sentiram as pessoas?
Obrigada Ana por este belíssimo texto.
Beijo.
Inaudito! ...
beijo
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