Rara Avis in Terris, JUVENAL, Sátiras, VI, 165

quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

Boas Festas






Com uma Estrela na Voz
Que voz é esta? De onde vem?
Que fantasmas antigos desperta
quando tudo o mais parece
ferido pela imobilidade de um sono de pedra?

Corres agora atrás das vozes
acantonadas nas arcas de Dezembro
e o que buscas é uma centelha de riso,
o fugaz cristal de uma lágrima,
o aconchego de uma carícia
capaz de vergar a noite ao peso
imaterial de um instante de ternura.

É só isso que buscas, nada mais.
E tudo o que buscas
é uma lança que trespassa a morte
tantas vezes anunciada
no mudo sofrimento dos animais.

E se, buscando, é a luz que encontras,
ergue-a então como um estandarte
na hora de todos os fingimentos
e continua buscando até descobrires
que a voz que persegues e quase te enlouquece
é a tua própria voz soletrando nos portais
os nomes piedosos e límpidos
de quem chega um dia no rasto de uma estrela.

José Jorge Letria


quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

Traços

Schoen Erhard, 1538






As primeiras  tentativas cubistas do século XVI são impressionantes...
Não costumamos imaginar, assim, a pintura desta época. Desconstruamos o olhar formatado.



Luca Cambiaso (1527–1585)





O Homem...na sua busca de encontrar fábricas de sonhos.



sexta-feira, 17 de novembro de 2017

Sugestão de leitura





São os tempos que vivemos. Muito ruído e muita mentira. Muito medo e muita euforia. Como todos, este é o tempo que o rio me concedeu para navegar... 



O livro pouco volumoso de  Byung - Chul Han é a minha mais recente leitura. Muito do que somos, socialmente, reduz-se as estas páginas do filósofo.
«O cansaço  tem um grande coração.», diria Maurice Blanchot
Perto do fim, o autor alerta-nos:

O cansaço desarma. No olhar lento e moroso do homem cansado, a firmeza dá lugar à serenidade. pág. 56



Estranhos tempos vivemos. A actividade intensa dos nossos dias conduz-nos a uma atitude de indiferença indefesa e solitária. Há muito que sabíamos disto mas, vê-lo escrito e fundamentado, incomoda e desperta. 

Precisamos, com urgência, de voltarmos a ser firmes! E...menos cansados, apesar desta contractura que me aprisiona a perna, por causa do excesso dos dias cansados.




domingo, 5 de novembro de 2017

Muros

Andre Kohn

Talvez o silêncio destes dias claros. Talvez a criança só que te habita, ainda, e sabe que não poderá - nunca - chorar! Talvez esta colectiva viagem de regresso a lugares que julgávamos, há tanto, destruídos...

É este retrocesso dos passos que, incautos, acreditámos ter superado. Afinal, na agudeza deste sol, andámos em redor. 

Aqui estamos! Fragmentos que lutam. Falanges que despertam de casulos inauditos. Pragas que retornam. Líderes que bóiam na sua leveza sem profundidade. Gente que, fútil, tudo apaga na luz deste dia iluminado. 

Como falar-te do futuro? Como dizer-te que és tu o plano do futuro? 

És tu o meu labor de cada dia. Para ti levarei a serena palavra que esperas para poderes tecer um porvir melhor e justo.

Não desistas!

Ana. 

sexta-feira, 20 de outubro de 2017

Língua e Cultura

Linguistic map Southwestern Europe


Conheço relativamente bem Barcelona e a Catalunha. Houve um tempo em que muito escrevi, por aqui, sobre aquelas paragens. Ali tenho bons amigos... O Cesc partiu para sempre.
São tempos circulares aqueles que vivemos. A seguir veremos. Não vivemos tempos de lirismo, isso não!

Recordando (basta clicar):

Pela Catalunha


[...]  Não podemos apagar a História. Estamos de acordo. Não poderemos esquecer as guerras: civis, coloniais, quixotescas, velhas gestas, velhas tiranias. Só assim evitaremos as do porvir.
Da tua rica Catalunha podes olhar o meu Portugal sem memória histórica.
Tu não és castelhana. Eu não sou castelhana.
Nós somos ibéricas e irmãs ancestrais. Nós somos ibéricas como todos os castelhanos, afinal.
Humanas e sequiosas de um mundo melhor.


                            Com Amizade.





sexta-feira, 13 de outubro de 2017

A minha mudez

Caterina Prato


É sempre...MUITO TRABALHO!

sábado, 30 de setembro de 2017

Reflexão de véspera

Teatro de Dionísios, Atenas


Li algures que os gregos antigos não escreviam necrológios,
quando alguém morria perguntavam apenas:
tinha paixão?
quando alguém morre também eu quero saber da qualidade da sua paixão:
se tinha paixão pelas coisas gerais,
água,
música,
pelo talento de algumas palavras para se moverem no caos,
pelo corpo salvo dos seus precipícios com destino à glória,
paixão pela paixão,
tinha?
e então indago de mim se eu próprio tenho paixão,
se posso morrer gregamente,
que paixão?
os grandes animais selvagens extinguem-se na terra,
os grandes poemas desaparecem nas grandes línguas que desaparecem,
homens e mulheres perdem a aura
na usura,
na política,
no comércio,
na indústria,
dedos conexos, há dedos que se inspiram nos objectos à espera,
trémulos objectos entrando e saindo
dos dez tão poucos dedos para tantos
objectos do mundo
e o que há assim no mundo que responda à pergunta grega,
pode manter-se a paixão com fruta comida ainda viva,
e fazer depois com sal grosso uma canção curtida pelas cicatrizes,
palavra soprada a que forno com que fôlego,
que alguém perguntasse: tinha paixão?
afastem de mim a pimenta-do-reino, o gengibre, o cravo-da-índia,
ponham muito alto a música e que eu dance,
fluido, infindável, apanhado por toda a luz antiga e moderna,
os cegos, os temperados, ah não, que ao menos me encontrasse a paixão
e eu me perdesse nela
a paixão grega.



Herberto Hélder.

sábado, 16 de setembro de 2017

Sublimando...

Rob Gonsalves



Firmes, os teus passos rasgam uma inquieta solidão. Abre o peito à calada luz que te guia...credo no velho ideal, no sentimento ardente, na claridade azul da madrugada fria! Que importam os brados, que dizem os bardos líricos e narcísicos olhando a própria sombra? Não és um deles. A selva urbana não te intimida,nela os homens afogam os sonhos e viajam em florestas imaginárias onde os medos se escondem... 
Regressa! A lua vai alto e os ideais se acalentam.

Ana

sábado, 29 de julho de 2017

Leituras...




Espera-se um poema, mas o trabalho ainda aperta...o calor imenso do sul interior não traz o cheiro da maresia, mas o odor criminoso dos fogos que eclodiram na distância próxima. Nuvens negras de outras tempestades...
Leio a última obra de Eco. Recomenda-se. Lúcido na  análise, até aos dias do fim!
Que a lassidão deste calor não inflame narcisismos megalómanos.





domingo, 16 de julho de 2017

Pela torrina do sol

José Alves, Benavila 


Tórrido, o sol cai a pique. São dias longos de muito trabalho e, quando contas aquelas anedotas sobre alentejanos, queria ver-te aqui comigo. Atravessamos o parque e as tílias ensombram os passos apressados. Sempre a hora. Sempre à hora. As salas irrespiráveis albergam vintenas de meninos que tremem e sabem que aquelas folhas lhes pautam o futuro. 
Catorze horas. Exames e mais exames. Exames de mais. Catorze horas.
Pela torrina - vais dizer que esta palavra é só minha - caminhamos lado a lado. Tão verdinho que vieste do teu Minho e agora dizes-me que gostas deste calor. Catorze horas. Quarenta e três graus. Vamos segurando as garrafas de água. A escola espreita-nos. Ah o trabalho! O trabalho. Com ele esses sonhos futuros, dos nossos meninos, hão-de ser matéria concreta.
Logo,  quando a sombra se esticar, iremos por ali, cavaleiros de agora, percorrendo a planície ondulada -  nosso mar dourado, bafo materno e criador!


Ana

sábado, 1 de julho de 2017

Védico lugar...

templo,Paquistão (Turismo, Paquistão)

Caminho pelo deserto. Sei dos templos, dos fortes, do cheiro proibido desta terra extrema...Talvez o emir me permita a almejada visita ao forte. Esta não é a terra dos noticiários, da violência e da crueldade. Quem são os destruidores? Que Humanidade anterior nos trouxe a este lugar? 
Professores sabem que aqui estiveram as primeiras universidades do mundo, que uma civilização védica foi edificando um território interior indestrutível, ainda que mártir neste século de intolerantes e intoleráveis seres. 


Derawar, Paquistão (cidadeemrevista.com)



Caminho pelo deserto, mas sei das cidades e do eco da voz humana quando se esvai e finda. Não te avisei que sou, apenas, um ser humano e que nada mais quero ser? Sei de lugares idílicos que a ganância cobiça e destrói. Sei da luz funda e benigna do olhar humano, onde a eterna ternura habita. Sei do momento insano do ódio... e dos rios de gelo que separam os filhos do Homem!

(google)

Cada ser humano só espera um novo amanhecer.


Ana






terça-feira, 27 de junho de 2017

Aves de rapina

Abutres, Portugal


Tristemente, abutres políticos espreitam a dor alheia!



As amoras
O meu país sabe a amoras bravas
no verão.
Ninguém ignora que não é grande,
nem inteligente, nem elegante o meu país,
mas tem esta voz doce

de quem acorda cedo para cantar nas silvas.
Raramente falei do meu país, talvez
nem goste dele, mas quando um amigo
me traz amoras bravas
os seus muros parecem-me brancos,
reparo que também no meu país o céu é azul.

Eugénio de Andrade

domingo, 18 de junho de 2017

Amanhece

Pedrogão, 2017

Como amanhecem os espectros,
Ímpias cacofonias...
Íntimas as dores,
Dilaceradas as memórias?


Novos pintores realistas


E, mesmo assim, há quem, numa humanidade precária, se dilua em lirismos idílicos... em casulos narcísicos.

Ana




sábado, 10 de junho de 2017

Voragem

Suelly


As hortênsias estão exuberantes e a frescura do jardim esconde, ainda, o calor deste dia. Na planura o regoguejar de uma raposa leva-me de regresso à infância - esse lugar do ouro aonde, dizem-nos, teremos sido felizes. Recordo alguns instantes dessa felicidade: o cheiro amarelinho dos tremoceiros bravos; o pó da terra batida sobre a qual os pneus da bicicleta resvalavam, chiando ritmadamente; o meu rosto vermelho de tanta corrida e de tanto calor...ah e aquelas gargalhadas estridentes de garotada livre e segura...
Um excesso de mundo real tem-me levado do mundo virtual. Morreram-me alguns, uns outros adoeceram, aqueloutros cruzaram o oceano e, os que permanecem, envolvem-me cada dia.
Assim, no labor de cada hora se vai urdindo esta trama a que usamos designar de vida.
Sei que o agora é Hoje! Que Portugal é Hoje! Que a Amizade é sempre.

Ana

domingo, 21 de maio de 2017

Inespecífica

Pol Ledent

Corre o vento do Sul, nesta Primavera inespecífica. O labor afoga-nos cada dia. Há um pântano donde, mansamente, emerge a esperança. O Verão vai chegar na surpresa do vento que corre do Sul. 


Ana



quinta-feira, 27 de abril de 2017

Entre mouros e visigodos



Portas de Ródão, José Alves

Andámos à deriva, mergulhados nas lendas deste país, aturdidos pela brisa insistente, fugidos a um trabalho sem tréguas. É preciso recarregar, é urgente retornarmos a lugares que deixámos cristalizados num tempo já antigo. Ainda ouvimos a voz serena do mestre que nos levou, tão jovens, a subirmos aqui acima.

Ródão, José Alves

 Destroçada, a rainha adúltera, pragueja, na imensidão da paisagem: « Nesta terra não haverá cavalos de regalo, padres não se ordenarão e putas não faltarão».



Portas de Ródão, José Alves

(Versão popular)

«Wamba, rei visigodo, fundou o Castelo de Ródão, onde vivia com a sua mulher e filhos. A rainha fugiu, certo dia, para os braços de um rei mouro, o que levou Wamba a procurá-la, disfarçado de mendigo.
Ela reconheceu-o, fingiu ser prisioneira do mouro e escondeu o marido no próprio quarto, entregando-o em seguida ao amante.
Pediu Wamba à generosidade do inimigo que lhe concedesse tocar pela última vez a sua corna. Os seus companheiros de armas ouvindo-o, acudiram-lhe. Mataram o rei mouro, e trouxeram a rainha para o Castelo de Ródão.
Por sugestão do filho mais novo, o castigo dela consistiu em ser precipitada pela íngreme encosta para o Tejo. Ao saber do castigo, a rainha proferiu a sua tripla maldição:
Adeus Ródão, adeus Ródão
Cercada de muita murta
E terra de muita ...
Não terás mulheres honradas
Nem cavalos regalados
Nem padres Coroados!»
Diz-se que por onde o corpo rolou nunca mais cresceu mato.» 



José Alves, 2017

NB: a praga da rainha pode ler-se neste cartaz.



terça-feira, 25 de abril de 2017

Aos dezasseis anos...




Depois de quatro quilómetros de bicicleta, cerca de trinta de autocarro e de surpreendentes notícias no rádio da velhinha 300 dos Claras, lá chegámos a Abrantes. Ao  lado esquerdo da estação de camionagem estava a sede da P.I.D.E./D.G.S. ... No Liceu a vida vibrava, espelhada no Tejo! Foi ali que vivi o dia claro, bem no polígono militar e, não só...




sábado, 22 de abril de 2017

A Forma Justa

Acrópole de Atenas, Propileu - José Alves


Sei que seria possível construir o mundo justo
As cidades poderiam ser claras e lavadas
Pelo canto dos espaços e das fontes
O céu o mar e a terra estão prontos
A saciar a nossa fome do terrestre
A terra onde estamos — se ninguém atraiçoasse — proporia
Cada dia a cada um a liberdade e o reino
— Na concha na flor no homem e no fruto
Se nada adoecer a própria forma é justa
E no todo se integra como palavra em verso
Sei que seria possível construir a forma justa
De uma cidade humana que fosse
Fiel à perfeição do universo

Por isso recomeço sem cessar a partir da página em branco
E este é meu ofício de poeta para a reconstrução do mundo


Sophia de Mello Breyner Andresen, in O Nome das Coisas

sexta-feira, 7 de abril de 2017

Da tranquilidade...


Doitri.com




Há, no meu jardim, um pouco dos lugares por onde andei. O Mediterrâneo veio aqui desaguar, numa branda transparência de azuis, numa onda íntima de sossego e serenidade. Há, no meu jardim, uma Humanidade que se mescla nos odores adocicados deste Abril de espanto e dor. Nele me distendo, depois de duros dias de trabalho. Refúgio onde me sento e releio Kafka. Que querias que lesse, nos dias que correm? Deixa a tua torre de marfim, sai do teu pequeno mundo, olha ao redor...Este é o momento que ele definiu tão bem: ansiedade e alienação!


Ana


segunda-feira, 20 de março de 2017

Hu.ma.ni.da.de

Itália, Veneza


Há mundos líquidos, por onde correm os sonhos dos homens. Lugares idílicos, aonde se reinventam rumores de antanho. Primaveras secretas que arfam no peito dos lunáticos e dos amantes devorados pela paixão e, esta, paradigma do destino último da humana condição - a morte.

Secretos, intranquilos, mergulhamos na atonia e no caos.

Que restará desta geração que - absorta, edonista e irascível - se afunda lentamente, pasmada no plasma e na contemplação de si mesma?

Haverá lugares obrigatórios e guerras necessárias?

Já te amei em Veneza e cruzei o Trieste quando a guerra grassava tão perto...
Só te posso afirmar aquilo que sei: o amor está em qualquer lugar e o sangue dos homens não é a nossa herança comum nem constrói o futuro - não te iludas, todavia! 
Somos a Humanidade.


Ana


Líbia, Sirte









hu·ma·ni·da·de 
(latim humanitas-atis)
substantivo feminino
1. O conjunto dos homens.
2. Natureza humana.
3. Género humano.
4. Bondade.
5. Benevolênciacompaixão.

"humanidade", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, https://www.priberam.pt/dlpo/humanidade [consultado em 20-03-2017].


domingo, 19 de fevereiro de 2017

Sugestão de leitura






Espera-se que fale do livro, do outro...livro. Só posso recomendar este. O resto é mesmo isso - o resto. Daí a verborreia com o seu carácter prolixo.







segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

Sem receio

Luis Dourdil



Andamos sobre a fímbria dos dias e, na distância, procuramos vultos insanos  que nos fazem temer um devir sem esperança. 
Compete-nos não desistir. Compete-nos resistir. 
Que importa se os pés vão nus e o caminho é longínquo?
Caminhamos, ainda, na direcção do ideal. Ao longe, outro mais frágil nos espera. No peito fechámos o alento. No braço empunhamos a serenidade.
Não me digas que, do outro lado, existem muros e que a Humanidade definha rumo a um ocaso qualquer...
Ao longe, ainda arde Alexandria.


Ana



terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

Empobrecendo...






O filósofo, linguista e crítico literário búlgaro, com quem muito aprendi...



segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

Apagaram-se os holofotes







Somos uma sociedade espectáculo, mas a minha natureza é comedida, quieta, e julgo que é muito importante vigiarmos as palavras que deitamos sobre o mundo - difícil será sabermos quais são «as palavras necessárias», expressão tão batida e tão inexacta. Quais são essas palavras? Qual é essa palavra?
Vivemos tempos de profunda inquietação. 

Há palavras necessárias!

Agora, que se apagaram os holofotes, ponderei deixar aqui um testemunho. Nele não há poesia, nem paixões de momento. Vivi estes factos na primeira pessoa, uma criatura anónima e sem emblemas na lapela.

Decorria o ano de 1976 e eu acabara de realizar um exame, a nível distrital, de acesso ao Ensino Superior nas disciplinas de Português e de Francês. A sociedade provinciana alentejana vivia tempos de grande perturbação social, nos quais se misturavam amores e ódios de vária ordem. Mudavam-se paradigmas e escolhiam-se caminhos. O sistema educativo ressentia-se das mudanças e apuravam-se caminhos. Aos dezassete anos, o Verão não cabia nos meus sonhos. Crescida entre montados e searas de trigo, dos meus avós, por motivos que se adivinham e que a História conta, era urgente que tomasse a vida nas minhas mãos. Assim, apesar dos dezanove valores (já tenho idade para falar nisto sem pudor exibicionista), decidi procurar trabalho. O interesse local reparou que aquela aluna da Faculdade de Letras, quando completou dezoito anos, era também professora...e tentaram conhecer-me e recrutar-me (assim eram os tempos). Vida cívica activa, mas apartidária...um alvo a atrair.
Tempos de grande esforço físico e intelectual, que o vigor dos verdes anos sabe sempre acalentar. Lisboa era distante, o trabalho intenso e para ser escrutinado (tão jovem e sem o curso completo)...e tudo aquilo que se adivinha.

Um belo dia, recebi um grosso envelope do gabinete do Primeiro Ministro com os impressos para uma bolsa de estudo da Fundação C. Gulbenkian, devidamente preenchidos e prontos a serem entregues. Uma carta explicava-me o porquê e incentivava-me a dedicar-me apenas ao estudo. Assinada: Mário Soares. O meu caminho estava escolhido e a minha resposta foi negativa, acompanhada de uma breve explicação pessoal. Nesse dia, ganhei o apreço de um homem que soube ouvir um não.  Assim o respeitarei. 

Ser livre é essencial, muito especialmente nos tempos em que vivemos.

Ana





quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

Regressos

Rob Gonsalves, Sweet city


Na procura de conhecimentos, o primeiro passo é o silêncio, o segundo ouvir, o terceiro relembrar, o quarto praticar e o quinto ensinar aos outros.
Textos Judaicos