«Romance único de Jorge de Sena,
parcela de um projecto romancesco de grande dimensão cuja designação genérica
seria Monte Cativo, objectivando o recorte de uma geração nascida nos finais
dos anos 10 do século XX, Sinais de Fogo abriga em si o despertar de um jovem,
entre um grupo de amigos e familiares, para a sexualidade, a política e o fazer
poético.
De uma erudição e de um rigor
literário inexcedíveis, aqui se fixa um olhar sobre o ano de 1936 português,
tendo como pano de fundo o início da Guerra Civil de Espanha.
Colecção Mil Folhas.»
GÉNESIS
De mim não falo mais: não quero nada.
De Deus não falo: não tem outro abrigo.
Não falarei também do mundo antigo,
pois nasce e morre em cada madrugada.
Nem de existir, que é a vida atraiçoada,
para sentir o tempo andar comigo;
nem de viver, que é liberdade errada,
e foge todo o Amor quando o persigo.
Por mais justiça... -Ai quantos que eram novos
em vão a esperaram
porque nunca a viram!
E a eternidade...Ó transfusão dos povos!
Não há verdade: o mundo
não a esconde.
Tudo se vê: só se não sabe aonde.
Mortais ou imortais, todos mentiram.
Jorge de Sena
«Jorge Cândido de Sena nasceu em 2 de Novembro de 1919 em Lisboa. Terminou em 1936 o seu curso de liceu (média de 13 no 5.º e 6.º anos, média de 14 no 7.º ano), ano em que se inscreveu nos preparatórios para a escola naval . Formou-se em engenharia civil na faculdade de engenharia do Porto (licenciou-se com 13 valores).
Até 1959 foi funcionário da Junta Autónoma de Estradas, data em que se exila no Brasil, onde conclui o doutoramento em letras e rege as cadeiras de teoria da literatura e literatura portuguesa na Universidade de Araquara.
A partir de 1965 passa a viver nos E.U.A. acompanhado da esposa Mécia de Sena, de quem teve nove filhos, sendo professor catedrático na Universidade de Winsconsin e, posteriormente na Universidade da Califórnia - Santa Bárbara, onde dirigiu o departamento de literatura portuguesa e espanhola. Recebeu ao longo da sua vida vários prémios, entre eles a Grã-Cruz de Santiago.
Faleceu em 4 de Junho de 1978. Três dias depois, a Assembleia da República exprimia pesar unânime, certamente partilhado por todos os que tiveram a honra de o conhecer a si ou à sua obra.»