Rara Avis in Terris, JUVENAL, Sátiras, VI, 165

terça-feira, 19 de novembro de 2019

Não adormeças...por favor!

«Guernica», Pablo Picasso



Eu Vim de Longe
                                                                                             José Mário Branco

Quando o avião aqui chegou
Quando o mês de maio começou
Eu olhei para ti
Então entendi
Foi um sonho mau que já passou
Foi um mau bocado que acabou

Tinha esta viola numa mão
Uma flor vermelha na outra mão
Tinha um grande amor
Marcado pela dor
E quando a fronteira me abraçou
Foi esta bagagem que encontrou

Eu vim de longe
De muito longe
O que eu andei pra aqui chegar
Eu vou pra longe
Pra muito longe
Onde nos vamos encontrar
Com o que temos pra nos dar

E então olhei à minha volta
Vi tanta esperança andar à solta
Que não hesitei
E os hinos cantei
Foram frutos do meu coração
Feitos de alegria e de paixão

Quando a nossa festa se estragou
E o mês de Novembro se vingou
Eu olhei pra ti
E então entendi
Foi um sonho lindo que acabou
Houve aqui alguém que se enganou

Tinha esta viola numa mão
Coisas começadas noutra mão
Tinha um grande amor
Marcado pela dor
E quando a espingarda se virou
Foi pra esta força que apontou

E então olhei à minha volta
Vi tanta mentira andar à solta
Que me perguntei
Se os hinos que cantei
Eram só promessas e ilusões
Que nunca passaram de canções

Eu vim de longe
De muito longe
O que eu andei pra aqui chegar
Eu vou pra longe
P´ra muito longe
Onde nos vamos encontrar
Com o que temos pra nos dar

Quando eu finalmente eu quis saber
Se ainda vale a pena tanto crer
Eu olhei para ti
Então eu entendi
É um lindo sonho para viver
Quando toda a gente assim quiser

Tenho esta viola numa mão
Tenho a minha vida noutra mão
Tenho um grande amor
Marcado pela dor
E sempre que Abril aqui passar
Dou-lhe este farnel para o ajudar

Eu vim de longe
De muito longe
O que eu andei pra aqui chegar
Eu vou p´ra longe
P´ra muito longe
Onde nos vamos encontrar
Com o que temos pra nos dar

E agora eu olho à minha volta
Vejo tanta raiva andar a solta
Que já não hesito
Os hinos que repito
São a parte que eu posso prever
Do que a minha gente vai fazer

Eu vim de longe
De muito longe
O que eu andei prá aqui chegar
Eu vou pra longe
P´ra muito longe
Onde nos vamos encontrar
Com o que temos pra nos dar





Para ouvir a canção preferida, basta «clicar» no link.





8 comentários:

CÉU disse...

Partiu hoje José Mário Branco, mas deixou vasta obra.
Gostei de ouvir a emblemática canção. Obrigada, querida Ana! Beijinhos.

Rogério G.V. Pereira disse...

Não!
Não adormecerei!

(não precisaria dizer
pois o sabes bem)

silvioafonso disse...

Você pode ter dormido, mas não eu...
Lindo, muito lindo, querida Ana.
Beijos.

Mar Arável disse...

Um Homem livre no lado esquerdo da vida

Majo Dutra disse...

É realmente uma grande canção, só totalmente entendida por alguns...

Parabéns pela pela sua sentida homenagem, querida Ana.

Que descanse em paz.

Beijinhos
~~~~

Manuel Veiga disse...

uma vida que semeou inquietações
mas nunca desânimo ou desistência

beijo, amiga

Olinda Melo disse...


Querida Ana


Uma belíssima homenagem a José Mário Branco,
na sua icónica canção, com "letra" que jamais
esqueceremos e música que já faz parte de
nós. E estes versos que traduzem um mundo
de coisas, de momentos:

Eu vim de longe
De muito longe
O que eu andei pra aqui chegar
Eu vou pra longe
P´ra muito longe
Onde nos vamos encontrar

Novembro cantado. Novembro em que ele
ele partiu para longe, lugar onde nos
(re)encontraremos um dia.

Beijinhos

Olinda

Jaime Portela disse...

Bela e merecida homenagem.
Também a fiz.
As suas canções deram um enorme e decisivo contributo para a minha formação política antes do 25 de Abril.
Ana, um bom resto de semana.
Beijo.