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Alto Alentejo, Janeiro 2021 |
Quebro o gelo, com uma passada larga. Conheço o desenho de cada passo, pois em cada dia repito esta passagem. O parque amanhece e carrega-se da renovada esperança de mais um dia que desponta. A luz limpa é um logro. A friagem desceu do zero e ela lê melhor a realidade.
Caeiro falar-te-ia do «cubo da sensação», mas eu falo-te deste animal do Sul e do Sol que sente o desconforto do gelo.
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Alto Alentejo, Janeiro 2021 |
Podes imaginar a samarra verde, a pele pálida, a máscara ironicamente aconchegante nesta alba...só não sabes do calor íntimo e revoltado. Ah! Não sabes como a injustiça revolta! Como a intempérie é, talvez, necessária e urgente...Não culpes este chão. Ele conhece os tiranos que o pisaram. Não culpes este chão!
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Alto Alentejo, Janeiro 2021 |
A intempérie chegará! Os sonhos jorrarão como esta água, a cântaros...e lavarão os rios que secaram no Verão. Não bramas, aturdindo a ignorância, pois dela se constroem as grades. Só as vozes não se aprisionam, só o sopro íntimo erguerá a obra. Amainará a chuvada.
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Alto Alentejo, Janeiro 2021 |
Caminho no parque, sob a chuva que fustiga, com uma passada larga. Do lado de lá o infindável trabalho dos dias: arremessar sementes ao Futuro em salas plenas de esperança!
Não culpes este chão!