Andam os dias como sabemos. Tiranias e guerras; mais de mil incêndios, em dois dias, num país que acreditávamos de clima temperado; uma pandemia que ainda grassa; o luto; a luta.
O meu Alentejo escalda, o meu trabalho não me larga. Quando saio, após o almoço, e atravesso o parque com a roupa negra que agora me cobre, o Sol diz-me que nem os pássaros ousam voar, pergunta-me aonde vou eu de garrafa de água na mochila e que pressa é esta que me acelera o coração que já foi jovem.
Do livro que agora leio, roubei o título de hoje...
Andam os dias como sabemos e os burocratas tomaram o assento dos sábios de outrora. Ironicamente, de tão sistemáticos, parecem não vislumbrar o resultado das suas acções. Creio que se afogaram na luz azul dos seus computadores e lá ficaram prisioneiros de grelhas e de mapas desconhecidos. Diferentes que são daqueles escribas que gravavam com as suas mãos, num esforço ritmado de artesãos, os longos códigos cuneiformes. Assim nasciam as bibliotecas, assim os podemos ler até hoje.
Museu de Israel, Jerusalém (José Alves, 2019) |
"Os signos inertes de um alfabeto tornam-se significados plenos de vida na mente. Ler e escrever alteram a nossa organização cerebral."
Siri Hustvedt, Vivir, pensar, mirar
Médio Oriente (José Alves, 2019) |
Que dificuldade terei sempre para compreender que a Humanidade se perca e caminhe de abismo em abismo! Assim, resta-me este destino irremediável de ir a sítios obscuros na tentativa de "Aprender a ler as sombras".
Ana