Alentejo, 2023 |
Estranho anda o mundo. Nem os poentes incendiados da minha terra plana conseguem esfumar tanta estranheza. Incapaz de indiferença, mergulho no trabalho e afundo-me em silêncio. A minha natureza alentejana sabe silenciar-se.
A imensa cacografia em que os dias mediáticos se tornaram extremaram o pensamento de muita gente. As pessoas entrincheiraram-se em opiniões fortificadas e, numa questão de algum tempo, os totalitarismos assomarão e instalar-se-ão. Basta ler os sinais.
As guerras alimentam-se dos ódios submersos e da miséria humana. À porta, as temos e, as mais demoradas e devastadoras, vão-se esmorecendo da actualidade televisiva. Escolas de crueldade, de corrupção, lugar emergente do caos e das ditaduras...
A nossa identidade pode ser, agora, olhada pela intolerância: a minha bastardia alentejana; o meu sangue impuro de cristã nova; a minha condição de professora e pária social; até as seis décadas de vida, numa sociedade espectáculo que privilegia o verniz que a juventude nos dá...por pouco tempo...
E por tudo isto, ir-vos-ei contando pequenos eventos subtis, dos tantos sítios por onde passei.
Ana