« As minhas palavras são de agradecimento. A Fundação José Saramago teve uma ideia, louvável por definição, mas que poderia ter entrado na história como uma simples boa intenção, mais uma das muitas com que dizem estar calcetado o caminho para o inferno. Era a ideia editar um livro. Como se vê, nada de original, pelo menos em princípio, livros é o que não falta. A diferença estaria em que o produto da venda deste se destinaria a ajudar as vítimas sobreviventes do sismo do Haiti. Quantificar tal ajuda, por exemplo, na renúncia do autor aos seus direitos e numa redução do lucro normal da editora, teria o grave inconveniente de converter em mero gesto simbólico o que deveria ser, tanto quanto fosse possível, proveitoso e substancial. Foi possível. Graças à imediata e generosa colaboração das editoras Caminho e Alfaguara e das entidades que participam na feitura e difusão de um livro, desde a fábrica de papel à tipografia, desde o distribuidor ao comércio livreiro, os 15 euros que o comprador gastará serão integralmente entregues à Cruz Vermelha para que os faça seguir ao seu destino. Se chegássemos a um milhão de exemplares (o sonho é livre) seriam 15 milhões de euros de ajuda. Para a calamidade que caiu sobre o Haiti 15 milhões de euros não passam de uma gota de água, mas A Jangada de Pedra (foi este o livro escolhido) será também publicada em Espanha e no mundo hispânico da América Latina – quem sabe então o que poderá suceder? A todos os que nos acompanharam na concretização da ideia primeira, tornando-a mais rica e efectiva, a nossa gratidão, o nosso reconhecimento para sempre».
quinta-feira, 28 de janeiro de 2010
«Porque temos uma obrigação»
« As minhas palavras são de agradecimento. A Fundação José Saramago teve uma ideia, louvável por definição, mas que poderia ter entrado na história como uma simples boa intenção, mais uma das muitas com que dizem estar calcetado o caminho para o inferno. Era a ideia editar um livro. Como se vê, nada de original, pelo menos em princípio, livros é o que não falta. A diferença estaria em que o produto da venda deste se destinaria a ajudar as vítimas sobreviventes do sismo do Haiti. Quantificar tal ajuda, por exemplo, na renúncia do autor aos seus direitos e numa redução do lucro normal da editora, teria o grave inconveniente de converter em mero gesto simbólico o que deveria ser, tanto quanto fosse possível, proveitoso e substancial. Foi possível. Graças à imediata e generosa colaboração das editoras Caminho e Alfaguara e das entidades que participam na feitura e difusão de um livro, desde a fábrica de papel à tipografia, desde o distribuidor ao comércio livreiro, os 15 euros que o comprador gastará serão integralmente entregues à Cruz Vermelha para que os faça seguir ao seu destino. Se chegássemos a um milhão de exemplares (o sonho é livre) seriam 15 milhões de euros de ajuda. Para a calamidade que caiu sobre o Haiti 15 milhões de euros não passam de uma gota de água, mas A Jangada de Pedra (foi este o livro escolhido) será também publicada em Espanha e no mundo hispânico da América Latina – quem sabe então o que poderá suceder? A todos os que nos acompanharam na concretização da ideia primeira, tornando-a mais rica e efectiva, a nossa gratidão, o nosso reconhecimento para sempre».
domingo, 24 de janeiro de 2010
Dia
De que céu caído,
oh insólito,
imóvel solitário na onda do tempo?
És a duração,
o tempo que amadurece
num instante enorme, diáfano:
flecha no ar,
branco embelezado
e espaço já sem memória de flecha.
Dia feito de tempo e de vazio:
desabitas-me, apagas
meu nome e o que sou,
enchendo-me de ti: luz, nada.
E flutuo, já sem mim, pura existência.
Tradução de Luis Pignatelli
Obrigada, Gerana, pois olhaste o meu tempo.
quarta-feira, 13 de janeiro de 2010
«E as Crianças, Senhor?»
terça-feira, 5 de janeiro de 2010
Reis e heróis
Cruzamos o Caia.
A História destes lugares escreve-se com sangue de muitas gerações em epopeias frementes de ruína e fervor - Francisco de Goya é a paleta dessa gesta.
Mergulhamos na calle Menacho e não compramos nada. A céu aberto o velho general vende de tudo nesta véspera de Reis. Os extremenhos apressam-se na compra de presentes de última hora. Logo à noite celebrarão o apogeu natalício numa cacofonia familiar extraordinária.
Edifícios que comprovam a influência dos irmãos Churriguerra espreitam com fachadas algo disformes. Chocam a pureza de linhas do meu Alentejo e, por isso, nós usamos um termo de corruptela linguística para este gosto arrevesado de Barroco tardio que não se apurou por ter convivido com o neoclássico: «corriqueiro».
Sombras e luz. Penumbras e medos.
sábado, 2 de janeiro de 2010
Tempos Circulares
calendário maia
¿TANTO HE PERDIDO contacto con la realidad
que me imagino escribiendo poesía?
De seguro tus devotos ilustres
todos poetas famosos, se reirán de mí
Hoy enfrento la prueba más dura de mi vida:
no tengo ninguna experiencia
y me han pedido que cante.
Soy el inocente a quien piden pecar
sin haber probado lo que ha de cometer.
Soy sólo un principiante, inculto en el arte,
ni siquiera mi Maestro se me ha revelado.
Ilumíname e inspírame, oh Señor.
Dice Tuka: el tiempo se me acaba.
(T U K A R A M, poeta indiano)
A Verdade que pode ser descrita em palavras não é a Verdade permanente.
O Nome que pode ser nomeado não é o Nome permanente.
Não tendo nome é o princípio de todas as coisas.
Tendo nome é a mãe de todas as coisas.
Assim, quem permanece sem desejo, vê a essência.
Quem permanece com desejo, vê a expressão.
Os dois têm a mesma origem, diferenciando-se nos nomes por que são chamados.
Profundamente oculta é a porta para se conhecer a essência dos seres.
(poema chinês)
Não sondes o destino, amiga, que os deuses
nos reservaram, nem interrogues
os astrólogos da Babilónia.
Enfrentemos o que vier, seja o que for.
Quer Júpiter te conceda muitos invernos
quer seja este o último
em que as ondas do Tirreno
castigam os rochedos,
sê sábia e prova teus vinhos.
A vida é breve,
não alimentes longas esperanças.
Enquanto falamos,
o tempo, invejoso, foge:
vive o presente,
o menos crédula possível
no dia seguinte.
(Horácio)
Mí presencia aquí no fue elección mía; A mi pesar el destino me acosa
para que me vaya.
Levántate, envuelve un trapo
a tu cintura, mi SakÍ,
Y embriágate para alejar la miseria
de este mundo.
Si hubiera sido mi elección,
¿habría venido?
¿Y en que me habría convertido?
¿Qué mejor fortuna podría
haber hallado
Que no venir, devenir o incluso ser?
Tu és!
Nem a audição do ouvido, nem a luz dos olhos
Podem ouvir-te.
Nem modo, nem causa,
Nem lugar te convêm como atributos.
Tu és!
O teu mistério está escondido:
Quem poderá sondá-lo?
Tão profundamente, tão profundamente:
Quem poderá encontrá-lo?
(Cântico judaico)
calendário grego
É assim, eu o creio, que alguém, o primeiro,
Persuadiu os mortais de formar o pensamento
De que existem deuses.
(Crítias, B xxv, op. cit., p. 1145-1146)