Cá de casa, José Alves |
Deixarei os jardins a brilhar com seus olhos
detidos : hei-de partir quando as flores chegarem
à sua imagem. Este verão concentrado
em cada espelho. O próprio
movimento o entenebrece. Chamejam os lábios
dos animais. Deixarei as constelações panorâmicas destes dias
internos.
Vou morrer assim, arfando
entre o mar fotográfico
e côncavo
e as paredes com as pérolas afundadas. E a lua desencadeia nas grutas
o sangue que se agrava.
Está cheio de candeias, o verão de onde se parte,
ígneo nessa criança
contemplada. Eu abandono estes jardins
ferozes, o génio
que soprou nos estúdios cavados. É a dor que me leva
aos precipícios de agosto, a mansidão
traz-me às janelas. São únicas as colinas de ar
palpitando fechado no espelho. É a estação dos planetas.
Cada noite é um abismo atómico.
E o leite faz-se tenro durante
os eclipses. Batem em mim as pancadas do pedreiro
que talha no cálcio a rosa congenital.
A carne, sufocam-na os astros profundos nos casulos.
O verão é de azulejo.
É em nós que se encurva o nervo do arco
contra a flecha. Deus ataca-me
na candura. Fica, fria,
esta rede de jardins diante dos incêndios. E uma criança
dá a volta à noite, acesa completamente
pelas mãos.
Herberto Helder
detidos : hei-de partir quando as flores chegarem
à sua imagem. Este verão concentrado
em cada espelho. O próprio
movimento o entenebrece. Chamejam os lábios
dos animais. Deixarei as constelações panorâmicas destes dias
internos.
Vou morrer assim, arfando
entre o mar fotográfico
e côncavo
e as paredes com as pérolas afundadas. E a lua desencadeia nas grutas
o sangue que se agrava.
Está cheio de candeias, o verão de onde se parte,
ígneo nessa criança
contemplada. Eu abandono estes jardins
ferozes, o génio
que soprou nos estúdios cavados. É a dor que me leva
aos precipícios de agosto, a mansidão
traz-me às janelas. São únicas as colinas de ar
palpitando fechado no espelho. É a estação dos planetas.
Cada noite é um abismo atómico.
E o leite faz-se tenro durante
os eclipses. Batem em mim as pancadas do pedreiro
que talha no cálcio a rosa congenital.
A carne, sufocam-na os astros profundos nos casulos.
O verão é de azulejo.
É em nós que se encurva o nervo do arco
contra a flecha. Deus ataca-me
na candura. Fica, fria,
esta rede de jardins diante dos incêndios. E uma criança
dá a volta à noite, acesa completamente
pelas mãos.
Herberto Helder
Fonte: Instituto Camões
5 comentários:
E a redenção vem-nos pelas mãos das crianças, com a sua pureza e ingenuidade.
Grande poeta Herberto Helder.Deixa-nos um legado precioso através da sua obra.Bela homenagem, querida Ana.
Bj
Olinda
Amiga Ana, não podias escolher melhor poema para homenagear o grande Herberto Helder.
beijinho
Fê
O poeta escreve o que sente,
escreve com imaginação, sabe o que faz
embora seja natural, mas contrariamente
o poeta partiu, deixou a saudade
a morte ninguém a aceita naturalmente!
que a sua alma Herberto Helder, descanse em paz!
Boa noite amiga Ana, um beijo,
Eduardo.
Mais um belo poema de Herberto Helder.
Uma grande perda para a poesia, embora ele vá permanecer no coração de quem ama as suas palavras...
Beijo.
Ana,
Esteja onde estiver, o GRANDE Herberto Helder vai sorrir-te, em agradecimento à linda homenagem que lhe prestas.
Agradeçamos-lhe o precioso legado, e desejemos-lhe que repouse em paz.
Não desistas de ir visitar Pompeia. A minha opinião pode não ser isenta, já que sou italiano de nascença :), mas eu gostei muito de visitar aquele local. A minha Mãe adorou, era também o sonho dela ir lá. No meu próximo post poderás admirar algumas (forçosamente poucas...) das inúmeras fotos que tirei.
Até lá... continuação de boa semana.
Um beijo
MIGUEL / ÉS A MINHA DEUSA
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