Maria João Fernandes
Às vezes passeio pela memória, escorrego no tempo interior, e tenho reencontros felizes. Olho, vagamente um quadro dependurado na minha frente. Está ali há tempos. A sua autora já habitou os meus dias como o quadro se instalou na minha parede ainda há mais tempo. Ah, o Tempo que não devora tudo! Desiludam-se os Antigos...eu prefiro Sophia de Mello Breyner,
Não se perdeu nenhuma coisa em mim.
Continuam as noites e os poentes
Que escorreram na casa e no jardim,
Continuam as vozes diferentes
Que intactas no meu ser estão suspensas.
Trago o terror e trago a claridade,
E através de todas as presenças
Caminho para a única unidade.
Maria João Fernandes foi minha professora de Literatura e eu, qual Saramago a ler Ricardo Reis (que ousadia), pensei durante algum tempo que Joana Lapa seria outra pessoa. Afinal, a minha mestra, mulher de muitos talentos - professora, crítica de arte, ensaísta, curadora, poetisa, humana de olhar claro e doce - escreve poemas por detrás de um pseudónimo. O mesmo que ali está na serigrafia de homenagem a Almada Negreiros: Joana Lapa. Conheci-a tão jovem. Acreditou tanto em mim. Ah, não sei se a não defraudei...
Aqui vos deixo um dos seus poemas: (daqui)
No litoral submerso do meu ser
a pena de uma gaivota
amante do verão
escreve os gestos da espuma.
O pássaro a que pertence
atravessou o sol,
as fronteiras do dia
para acordar no lilás das sombras
a ressurreição do mundo.
Cadernos do Vento
11 comentários:
Há gente, assim
que traz
a alma
espelhada
na cara
e mesmo que o tempo passe
quase sempre
temos presente
uma expressão, uma cumplicidade
um sorriso, um poema...
Gostei muito, Ana. Gostei muito de conhecer a poesia de Joana Lapa.
Forte abraço!
Pessoas que passam pela nossa vida para a tornar melhor e habitada pelo que é essencial...
O tempo não devora tudo, não, Ana. Felizmente.
Cuida-te bem.
Uma boa semana.
Um beijo.
Pessoas existem que nos marcam e sempre residem em nós.
Minha querida, tu nunca defraudas ninguém!
Beijinho com voto de uma semana sem sobressaltos
~~~
Excelente homenagem à sua professora, Maria João Fernandes.
Acredito que não a dececionou.
E Joana Lapa, tanto tempo sem a identificar!
É um prazer ler os seus textos, sempre coloridos de poesia.
Tudo pelo melhor. Abraço
~~~~~~
Pode a discípula da Docente de Literatura e escritora, ficar tranquila.
Os ensinamentos não cairam em 'saco roto'.
Gostei de ler os poemas com que a Ana homenageia a poetisa Joana Lapa.
( Pseudónimo de Maria João Fernandes )
Um abraço e boa semana
Muito lindo teu post e poesia trazida. Gostei de ler!Ótima semana! bjs, chica
Gostei muito da homenagem, vou seguir o link.
A vida é feita de escolhas e há motivos para que tenhas orgulho de grande parte dessas. Não deverá ser incomum ao ser humano considerar não ter atingido o seu pleno potencial e as tuas qualidades artísticas (e humanas) estão aí, à disposição de qualquer leitor menos atento até…
És um exemplo e um orgulho, a tantos, mas tantos níveis. Deixo-te um beijinho
É uma homenagem merecida,
muito bem visto amiga Ana
muita saúde a paz na vida
continuação de boa semana!
Beijinhos.
A tua mestra teve pouco ou nenhum trabalho contigo, pois são as duas talentosas.
Ela é multifacetada e tu também, minha amiga.
Beijos e boa semana.
Bem, já disseram tudo o que eu
gostaria de dizer, portanto, só
me resta bater palmas, aplaudir.
Beijos pra você, beijos.
Enviar um comentário