Rara Avis in Terris, JUVENAL, Sátiras, VI, 165

sexta-feira, 13 de novembro de 2020

Intimamente

 

G. Ribeiro Teles


Olho pela vidraça. Há flores e folhagem verde, como se a Natureza se distendesse após os calores tórridos deste Verão que aturdiu e cegou os pássaros cansados. O cansaço da corrida diária pode arredar a adrelina dos dias. Silêncios. Pássaros tardios. Silêncios.
Tu não sabes e não podes adivinhar. Cada dia é um limite. Cada dia dia o limite se alonga como um horizonte na planície. Cada acção se paga, cada deslize se reflecte no narcísico lago. A prosa dos dias.
Trabalhamos em universos infinitos: virtuais, parciais e reais... mas já perdemos a noção do Real. Ricardo Reis vai ajudando a aceitar o destino. O seu ritmo cadencia a minha voz...Os sábios de Alexandria ficaram próximos, descemos até à Pérsia. Percebeste que o planeta ficou minúsculo, eu percebi que os dias se tornaram muito pequenos e que, neles, não cabe a minha vida toda. 
Quero que cumpras a tua vida e que não cedas à desesperança. Sorrio como posso e, intimamente, desejo que o meu olhar ainda te conceda algum brilho. Às vezes penso que talvez se tenha apagado a velha luz, que os anos desbotem a empatia e que tudo se tenha tornado asséptico.


                                                                         in, Jornal d Madeira

13 comentários:

chica disse...

Que lindo te ler,Ana! Adorei! Ótimo fim de semana! Bjs,chica

Maria João Brito de Sousa disse...

A realidade nunca foi estática, mas também nunca antes tinha sido uma infinda sequência de "sprints" na qual se não pára nem mesmo para passar o testemunho.

Tem razão Ana; tudo se está a tornar demasiado asséptico.

Abraço!

João Santana Pinto disse...

É sempre um prazer, a tua escrita ilumina o dia mais escuro com as letras que acabas por pintar.

Uma mensagem com a tua visão do mundo, das coisas, do ser e do estar. Uma mensagem que pode ser destinada a alguém em particular mas que, cada um de nós pode a sentir como sua, se partilhar a tua visão, como é o meu caso.

Um beijinho para ti

Edum@nes disse...

Quanto mais preciso nela,
orgulhosa da sua gentileza
a situação não nos alegra
enquanto paira a incerteza!

Bom fim de semana amiga Ana. Beijinho.

Margarida Pires disse...

Olá minha querida amiga Ana!
O tempo passa e todos andamos num mar de rodopios!
Que venham dias melhores!
Uma grande beijoquinha!🌷❤🍀
Megy Maia🌈

silvioafonso disse...

Bonita a forma como escreves.
Eu também gosto, mas nem sempre o
que digo pode ser pulicado. Não
por falta de verdade ou excesso de
mentiras, mas por falta de credibilidade.
Ninguém acredita nas histórias que
conto.
(risos)

Rogério G.V. Pereira disse...

«Quero que cumpras a tua vida e que não cedas à desesperança.»

Farei o que me pedes, juro.
E porque a esse teu querer
fico reconhecido
e te acendo a chama da velha luz

Luiz Gomes disse...

Boa noite Ana. Parece que em relação ao Covid andamos em círculos e nunca achamos a saída.

alfacinha disse...

gosto de ler ,é sempre um prazer
cumprimentos de Flandres

Fê blue bird disse...

Perdi-me e encontrei-me nas tuas palavras minha amiga.
A minha velha e trémula luz reacendeu-se, talvez para dar alguma cor aos meus dias.

Um grande beijinho

Janita disse...

Os seus belíssimos e inspirados textos, Ana, são uma fonte inesgotável de esperança e alento.
Muito obrigada por isso.

Um beijinho e até breve.

Janita disse...

Os seus belíssimos e inspirados textos, Ana, são uma fonte inesgotável de esperança e alento.
Muito obrigada por isso.

Um beijinho e até breve.

Majo Dutra disse...

Querida Ana.
Agradeço estes bons momentos de leitura deliciosa,
num texto que concilia a poesia com a realidade.
Uma semana boa, com o sucesso possível. Beijinhos.
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