Jim Warren |
Retrato de uma princesa desconhecida
Para que ela tivesse um pescoço tão fino
Para que os seus pulsos tivessem um quebrar de caule
Para que os seus olhos fossem tão frontais e limpos
Para que a sua espinha fosse tão direita
E ela usasse a cabeça tão erguida
Com uma tão simples claridade sobre a testa
Foram necessárias sucessivas gerações de escravos
De corpo dobrado e grossas mãos pacientes
Servindo sucessivas gerações de príncipes
Ainda um pouco toscos e grosseiros
Ávidos cruéis e fraudulentos
Foi um imenso desperdiçar de gente
Para que ela fosse aquela perfeição
Sophia de Mello Breyner Andresen
11 comentários:
Linda poesia e faz pensar bem sobre a monarquia!
Ótimo domingo! beijos, tudo de bom,chica
Profundo poema . Te hace pensar. Te mando un beso.
Muito bom para reflectir.
Beijinho, amiga, bom Dia da Mãe.
Esplendia escolha, Ana! Perfeita para o dia de hoje... e para todos os dias de todos os anos.
Um beijo!
Sophia
e ela que não fizesse poética denúncia
de quanto custa
a perfeição da realeza
Beijinho
A história sabe o que foi cobrado aos povos e aos escravos desde os tempos medievais.
A história é testemunha da violência, fome, subjugação, miséria, assassinatos, em complô com os Papas, Bispos, Arquidiáconos, Condes etc., fosse ano bom de colheitas ou não, tiravam-lhes o pouco que podiam comer. Só podiam moer cereais nos moinhos dos priorados ou dos condes e outros nobres, para que ficassem de imediato com grande parte do trabalharam uma época inteira.
A farsa continua e não só os vassalos pagam, todos os outros também para a vergonha que vamos assistindo, mas que eles não demonstram ter.
Ainda hoje passados séculos e séculos a ostentação continua, e a passagem daquela ideia da superioridade perante os outros está presente na altivez com que tratam as pessoas.
Os escolhidos por Deus 😞☹️😠
Kandando querida amiga, continuação de uma boa semana.
Olá, querida amiga Ana!
Assim se passa não só na Monarquia, mas em muitos locais até hoje.
Por um mínimo salário se escravizam vários homens e mulheres em benefício do bolso de eleitos, algo um pouco parecido com os fatos acima bem apresentados por você.
Sophia era realista...
Muito obrigada pela delicadeza do seu comentário hoje.
Tenha dias abençoados!
Beijinhos
Sophia de Mello Breyner Andresen, soube expressar
na sua bela forma poética todo o horror que foi a
escravatura, e, como sabemos, a exploração continua
tomando outras nuances.
Tem uma boa semana, querida amiga Ana.
Beijinhos
Olinda
Desconhecia este belo e profundo poema de Sophia de Mello Breyner.
Uma escolha perfeita.
Beijinhos
Um grande poema de uma grande poeta.
Não sei se foi inspirado neste poema que escrevi um com um contexto idêntico.
Tomo a liberdade (e a ousadia) de o reproduzir aqui, pois acho que não o leste (pelo menos não há comentário que o comprove...).
Odisseia (404)
Para que o teu corpo de princesa não estranhe
o toque moreno da pele marialva
e para que os teus seios se tenham torneado
com os reflexos vândalos da neve,
violenta mistura de sangue sucedeu.
Ou talvez tenham sido as espadas e os arados,
acasalados no corpo profanado das tuas avós,
que te entranharam os genes da saudade.
Para que as tuas mãos compreendam virgens
a suavidade das nuvens num dia de sol
e para que os teus braços saibam de cor
os contornos do meu corpo de mar,
mil varões e muitos mais escravos
se pouparam de naufrágios.
Ou talvez tenha sido a água bem-aventurada
que herdaste do olhar das tuas antepassadas,
mulheres que navegaram na claridade
dos remendos do pano-cru das caravelas perdidas.
Para que sejas tão perfeita e de mim tão sabedora,
há em ti uma sereia que afasta Adamastores e
uma ninfa da Ilha dos Amores do Canto de Camões.
E eu confirmo, porque avisto, num repente,
no teu beijo com o sabor de séculos,
toda a tragédia dispersa no fado de tanta odisseia.
26 de Maio de 2022
Bom fim de semana.
Beijo.
Não conhecia este poema de Sophia.
Infelizmente ainda há uma certa escravatura.
Beijos, minha amiga Ana.
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