(terra natal de José de Sousa Saramago)
Intimidade
No coração da mina mais secreta,
No interior do fruto mais distante,
Na vibração da nota mais discreta,
No búzio mais convolto e ressoante,
Na camada mais densa da pintura,
Na veia que no corpo mais nos sonde,
Na palavra que diga mais brandura,
Na raiz que mais desce, mais esconde,
No silêncio mais fundo desta pausa,
Em que a vida se fez perenidade,
Procuro a tua mão, decifro a causa
De querer e não crer, final, intimidade.
José Saramago
(Ilha de Lanzarote, Canárias - leito de morte: 2010)
Não me Peçam Razões... Não me peçam razões, que não as tenho,
Ou darei quantas queiram: bem sabemos
Que razões são palavras, todas nascem
Da mansa hipocrisia que aprendemos.
Não me peçam razões por que se entenda
A força de maré que me enche o peito,
Este estar mal no mundo e nesta lei:
Não fiz a lei e o mundo não aceito.
Não me peçam razões, ou que as desculpe,
Deste modo de amar e destruir:
Quando a noite é de mais é que amanhece
A cor de primavera que há-de vir.
José Saramago
8 comentários:
E lá se perdeu mais um dos grandes... E que Portugal não caia na hipocrisia de lamentá-lo.
Beijinhos
Minha querida Aninha
É sempre assim é preciso estar morto, de verdade, para se voltar a falar, neste caso, de José Saramago. É o destino dos nossos grandes homens de letras. A pátria exila-os em vida e homenageia-os depois de mortos. Rodrigues Miguéis, Jorge de Sena são disso o exemplo.
Gostei dos textos que escolheste.
Beijinhos e bom fim de semana, vê se descansas um pouco.
Mais beijinhos
Isabel
Hoje a Literatura mundial ficou mais pobre e nós mais tristes.
Um grande abraço a Portugal.
Domenico Condito
De volta e com muita saudades.
Vim agradecer pelas energias intuidas e pelo carinho.
Quanto a Saramago........meu amigo,sem mesmo que soubesse.......sentirei saudades da cia de seus livros proximos,que infelizmente não existirão.
afagos
Você sabe que ele é (sim, ele sempre será) o escritor que mais admiro, não sabe?
Estou sentidíssima.
Escolhi do meu exemplar de poemas Provavelmente Alegria (Editorial Caminho, 1987), um dos mais melódicos e belos versos.
AS PALAVRAS DE AMOR
José Saramago
Esqueçamos as palavras, as palavras:
As ternas, caprichosas, violentas,
As suaves de mel, as obscenas,
As de febre, as famintas e sedentas.
Deixemos que o silêncio dê sentido
Ao pulsar do meu sangue no teu ventre:
Que palavra ou discurso poderia
Dizer amar na língua da semente?
Olá Ana:
Precioso homenaje a Saramago. Su pérdida es una lástima, porque tenía mucho más que decir.
Gracias guapa.
Um beijinho desde la Nave ;))
Respeito o criador;
Tento compreender algumas polémicas;
Não concordei com alguns livros (Ensaio Sobre a Lucidez ou A Jangada de Pedra)
Porém, reconheço-lhe mérito.
Que perda...
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