« E quando os homens são de tal condição, que cada um quer tudo para si, com aquilo com que se pudera contentar a quatro, é força que fiquem descontentes três. O mesmo nos sucede. Nunca tantas mercês se fizeram em Portugal, como neste tempo; e são mais os queixosos, que os contentes. Porquê? Porque cada um quer tudo. Nos outros reinos com uma mercê ganha-se um homem; em Portugal com uma mercê, perdem-se muitos. Se Cleofas fora português, mais se havia de ofender da a metade do pão que Cristo deu ao companheiro, do que se havia de obrigar da outra metade, que lhe deu a ele. Porque como cada um presume que se lhe deve tudo, qualquer cousa que se dá aos outros, cuida que se lhe rouba. Verdadeiramente, que não há mais dificultosa coroa que a dos Reis de Portugal: por isto mais, do que por nenhum outro empenho. (...) Em nenhuns Reis do mundo se vê isto mais claramente que nos de Portugal. Conquistar a terra das três partes do mundo a nações estranhas, foi empresa que os Reis de Portugal conseguiram muito fácil e muito felizmente; mas repartir três palmos de terra em Portugal aos vassalos com satisfação deles, foi impossível, que nenhum rei pôde acomodar, nem com facilidade, nem com felicidade jamais. Mais fácil era antigamente conquistar dez reinos na Índia, que repartir duas comendas em Portugal. Isto foi, e isto há-de ser sempre: e esta, na minha opinião, é a maior dificuldade que tem o governo do nosso reino. »
Padre António Vieira
Sermão da Primeira Oitava da Páscoa / Pregado na Matriz da cidade de Belém do Grão-Pará, 1656
6 comentários:
Eu não gostei nada disto. Ver o nome deste senhor dá-me arrepios na espinha. A professora fez de propósito, quer assombrar os seus alunos que visitam o blog!
Beijinhos
Minha querida Ana
Texto muito actual...ainda hoje.
Beijinhos com carinho
Sonhadora
Muito lúcido este grande homem!
Exímio na escrita
brilhante nos sermões!
Bjs
OH minha menina Sara...vou responder aqui, pois fica dito:
OBVIAMENTE!
(Lembra-se que fui atleta e treinadora?
Pois é...sem aquela adrenalina, vinda da pressão, que seria dos grandes competidores?)
Beijocas e, haja confiança!
Sem dúvida um grande homem! beijinhos Ana!
Li este livro do Jose Gil e gostei tanto que não me cansei de fazer miras ao longo texto (pontinhos, sublinhados, os celebrados «NB», etc.)
Uma obra extraordinária.
Fizeste uma excelente sugestão.
«Os Sermões» do Pe António Vieira, são qualquer coisa de extraordinário.
Quem perder a sua leitura, nem faz ideia do que isso representará.
Recentemente, a INCM lançou, em três vols, »Cartas».
São magníficas!
Bjs
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