fonte: EB1 - Nisa
Corro com o sol pelas costas. Um pacote de exames no banco traseiro leva-me aos medos da infância. Tesouro inviolável e anónimo. Vidas que esperam. O sol espraia-se num mar de miragens e a estrada liquefeita brilha na paisagem.
Ondas de pastagens douradas iludem os incautos. A estrada corre veloz. Viajo num casulo frio, feito nave, que paira sobre o dourado e árvores correm solidárias ao meu lado. Sinto solidão. Esta bolha fria envolve-me, condicionada, e sei que as árvores dançam atordoadas pelo calor intenso do meio dia perfumado pelo cheiro, doce, das estevas.
No banco traseiro, Pessoa e Lobo Antunes acompanham Fernão Lopes, num diálogo estranho de séculos. Teste do que somos.
Portal alentejano
Branco disperso acende-se de luz vibrante e eu sei do aconchego sombrio e fresco desses lares ascetas. Cheiros íntimos do pão, química serena do trabalhar do leite que se transforma...cardo, destes campos amadurecidos, que fermenta e coalha. Vida simples que sei como viver sem a ter e que, neste frio asséptico em que viajo, sonho num lugar de ouro sobre a planície.
Casario brilhante que sorri quando passo, acolhedor e sereno na sua severidade pura.
Casario brilhante que sorri quando passo, acolhedor e sereno na sua severidade pura.
visitPortugal
Voltarei com o sol a incendiar a paisagem. Ocaso de longos dias. Trabalho infindável na dureza extensa e vária de tarefas desiguais. Porém, sou livre nestes lugares que me aprisionam e me silenciam.
Angústia perene de humanidade, ciclos da terra ancestral, árida e quente.
No banco de trás, «Ela canta pobre ceifeira» ganhou há muito à «Praia das Maçãs» húmida e fria da infância de Lobo Antunes e o teste não será nunca a burocracia que inventaste para que o corrija gelada e imparcial sob este calor tórrido da minha terra transtagana.
Examinar-te-ei com a humanidade humilde deste sol que me abrasa, porque a vastidão, há muito, me reduziu à minha dimensão e me ensinou o rigor inflexível dos dias incendiados.
Angústia perene de humanidade, ciclos da terra ancestral, árida e quente.
No banco de trás, «Ela canta pobre ceifeira» ganhou há muito à «Praia das Maçãs» húmida e fria da infância de Lobo Antunes e o teste não será nunca a burocracia que inventaste para que o corrija gelada e imparcial sob este calor tórrido da minha terra transtagana.
Examinar-te-ei com a humanidade humilde deste sol que me abrasa, porque a vastidão, há muito, me reduziu à minha dimensão e me ensinou o rigor inflexível dos dias incendiados.
13 comentários:
Ana, fiquei sem palavras. Tao lindo...voltarei com o sol a incendiar a planície...Fez-me lembrar as planicies e os fins da trade do alentejo....É lindo não é Ana?!
E lidas muito bem com as palavras ana! continua...
boa sorte para corrigir os exames;)
Um pouco chato não é?!
Ana, proseias tão lindamente quanto fazes poemas.
bjs.
Minha querida Ana
Maravilhoso texto, imagens de uma terra amada e sofrida.
Fiquei com o cheiro das estevas, que sinto ainda em mim, mesmo que não vá lá como gostaria.
Beijinhos
Sonhadora
Muito belo o seu texto
sobre uma das mais características regiões do país.
Também muito apropriadas
as fotografias.
Beijinhosss
Foi pouco.....fico aguardando pelo
livro completo.
Adorei....belo texto.
Beijo
Querida Aninha
Sinceramente fico emocionada pois a tua prosa é igualmente bela quanto os teus poemas.
E as fotografias são lindas.
Nós aqui em casa somos todos grandes treinadores de sofá.E divertimo-nos imenso.
Beijinhos e bom fim de semana.
Isabel
Arrasou! Adorei sua linha contínua, Ana.
ciao,
I'd like open a window my blog with your artworks. With your e-mail address (at shotnshow@gmail.com) I can activate you as author. Thanks. Marco.
Gostei de pasar por aqui.Vou voltar mais vezes.
Adoro o Alentejo.
Um beijo
Flor
Uma exaltação ao Alentejo como não lia há imenso tempo.
Tenho e tive familiares alentejanos; vivi no Alentejo e, por essa razão, sei avaliar com alguma emoção esta paleta de cores, cheiros e o roteiro na planície.
Identifiquei os autores.
Realço o detalhe da emoção e o temor de não falhar na avaliação dos testes.
Compreensível.
Belíssima edição.
Bjs
Olá professora !
Gostei muito deste poema ! :)
Beijinhos
Viajei junto contigo nestas linhas...
Boa semana!
Bjs.
Enviar um comentário