Rara Avis in Terris, JUVENAL, Sátiras, VI, 165

sábado, 28 de junho de 2014

Bavarder

28/Junho/1914
Ilustração de Achille Beltrame


Hoje, nada celebraremos. Sarajevo é um lugar de iniciações difíceis. O sangue dos  homens brota nas flores dos jardins, depois do frio longo do Inverno.  A sua modernidade ilude os transeuntes e cada europeu caminha, especularmente, sobre as lâminas da memória. Isso não se celebra. 

Actualizamos para que a História não se repita, pois se cada um de nós é um bavard, temos esse dever, essa obrigação. Temos que ter a exactidão da palavra. Chama-lhe propriedade lexical, se quiseres.
É nesse tempo que o avô Zé parte para África. Jovem, loiro, alto com um olhar de Verão alentejano azul e límpido.

Partida de tropas para Angola

 Voltou. Toda a sua vida há-de falar desses tempos. Daquilo que viu, do exotismo dos lugares, das tradições...mas jamais nos falou da Guerra - da Grande Guerra. Um dia fui herdeira da sua caderneta militar. Aqui a tenho, para não esquecer que Sarajevo nunca foi um lugar distante, que nenhum lugar é distante quando se alimenta do sangue dos homens.

Ana


15 comentários:

. intemporal . disse...

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. assertivo e em nada redutor .

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. beijo meu .

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Manuel Veiga disse...

os demónios da guerra andam (ainda) à solta - aqui tão perto.

(tenho um sabre/baioneta na minha estante de "memórias" - herança de um tio-avó, que regressou gaseado)

beijo

Lídia Borges disse...

"Nenhum lugar é distante quando se alimenta do sangue humano"

Sempre perto demais!


Um beijo

Lídia

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

sentido e muito verdadeiro...

:(

Edum@nes disse...

Dos que voltaram com esperanças!
só de ouvir falar arrepiam o corpo
as guerras são tristes lembranças
quem mais sofre com elas é o povo!

As guerras são desencadeadas por gente louca!

Um beijo.

Bípede Implume disse...

Querida Aninha
As guerras são monstros que pairam sempre ao redor da humanidade. Sempre à espreita.
As comemorações são apenas uma espécie de aviso à nossa memória.
Beijinhos
Isabel

São disse...

Tens toda a razão.Acabei de ler de j. North"Nenhum Homem é Estrangeiro".

Os assassinatos de Sarajevo provocaram uma imensa bola de neve , cujos resultados ainda se desenrolam à nossa frente...

Um bom serão, amiga

Olinda Melo disse...


Sarajevo, o clique que despoletou a desgraça da 1ª GRANDE GUERRA. Os que voltaram ficaram com a juventude desfeita, assim como os que combateram na 2ª Grande Guerra e na Guerra do Ultramar.

Tens razão, é preciso não esquecer.

Beijinhos.

Olinda

AC disse...

Há memórias para sempre cultivar, que delas o homem, em seus primários achaques, é de carência contínua.

Beijo :)

Daniel C.da Silva disse...

Gostei muito deste post... e partilha!

beijo amigo

Fê blue bird disse...

" Actualizamos para que a História não se repita, pois se cada um de nós é um bavard, temos esse dever,


Sempre atenta e motivadora minha amiga.

beijinho

Alfredo Rangel disse...

Que maravilhosa escola é a Europa para a América Latina e para o Brasil em especial. Que as atrocidades que aí ocorreram sirvam de lição para o povo daqui, ainda livre destes ódios que tanto mal fizeram a esta maravilhosa Europa.

Graça Pires disse...

Temos sempre por perto memória da guerra como lâmina sobre as nossas mãos. Mas o mundo aprendeu alguma coisa?
Gostei imenso do teu texto, Ana.
Um beijo.

Existe Sempre Um Lugar disse...

Boa tarde,
Os senhores da guerra continuam a espreitar pela oportunidade. as guerras que causam tantas vitimas inocentes , continua e sempre vai continuar a ser uma bom negocio.
Fique bem
AG
http://momentosagomes-ag.blogspot.pt/

MDRoque disse...

"É mais fácil mobilizar os homens para a guerra que para a paz. Ao longo da história, a Humanidade sempre foi levada a considerar a guerra como o meio mais eficaz de resolução de conflitos, e sempre os que governaram se serviram dos breves intervalos de paz para a preparação das guerras futuras. Mas foi sempre em nome da paz que todas as guerras foram declaradas."
Se pelo menos a terra vermelha puder um dia voltar a florir...

Beijo e BFS. D

"É mais fácil mobilizar os homens para a guerra que para a paz. Ao longo da história, a Humanidade sempre foi levada a considerar a guerra como o meio mais eficaz de resolução de conflitos, e sempre os que governaram se serviram dos breves intervalos de paz para a preparação das guerras futuras. Mas foi sempre em nome da paz que todas as guerras foram declaradas."