Rara Avis in Terris, JUVENAL, Sátiras, VI, 165

quarta-feira, 30 de outubro de 2019

Experiência Inefável


Negueve, Agosto de 2019


É no caminho do deserto, Agosto pleno, que a terra respira a sua antiguidade e sageza. A voz emudece. Todos os desertos são diferentes e gosto de os atravessar como quem cai no colo quente e ancestral da mãe. Deserto e origem, vertigem e vórtice! Aqui, o silêncio deixa escutar a Alma imensa do Universo...emudece e comove, na solitária rota de uma origem.


Negueve, Agosto de 2019



Nenhum lirismo me extasia - defeito de uma profissão que me vai preenchendo a vida e roubando o tempo. Porém, nesta terra disputada encontro uma essência que a Logos não explica. Nem sei em que país estou - aqui é difícil dizê-lo, mas  eu não estou em romagem religiosa nem em missão política. Sinto uma pátria íntima. 
Viver uma experiência extrema, sempre nos há-de fortalecer!

Não tenho a certeza que o oásis me conforte. Jamais o procurei. Aborrece-me o hedonismo, a superficialidade, o tom pastel de tantas vidas. Gosto das tâmaras.Só.


Ein Gedi, Agosto, 2019

E regresso ao deserto, ele é do puro domínio da abstracção, abre-se à transcendência ascética e reduz-nos ao essencial. 
Há lugares que nos mudam para sempre, pois falam-nos da responsabilidade que temos por sermos humanos, livres, justos e racionais.


Fronteira: JordâniaCisjordânia e Israel.


Ana


13 comentários:

João Santana Pinto disse...

Há viagens, momentos, experiências que nos ajudam a crescer, a ganhar maturidade, ou muito simplesmente, a ganhar "humanidade".

Não posso deixar de dizer que a tua escrita é um estimulo para a própria alma… pela leveza, pela qualidade, pelo facto de transformares as palavras em pintura.

Um dia, quem sabe, talvez embarque em tal aventura…

Parece quase fútil perante um texto tão rico, mas vou comentar que as tâmaras (não as que nós temos acesso por cá) são verdadeiramente extraordinárias.

E, no fundo, tudo se resume a "Há lugares que nos mudam para sempre, pois falam-nos da responsabilidade que temos por sermos humanos, livres, justos e racionais."

Obrigado pela "viagem", pelas palavras e pela mensagem profunda.

Beijinhos

Graça Pires disse...

"Há lugares que nos mudam para sempre, pois falam-nos da responsabilidade que temos por sermos humanos, livres, justos e racionais."
Magnífico texto, minha Amiga Ana. Deve ter sido uma experiência fantástica.
Um grande beijo.

Rogério G.V. Pereira disse...

TEu texto e imagens trouxeram-me à memória
uma viagem com um inesperado percurso
Foi numa viagem ao Maputo
em que o piloto, em voo quase rasante,
nos brindou com uma demonstração da paisagem
do deserto africano...
Como dizes, «Há lugares que nos mudam para sempre, pois falam-nos da responsabilidade que temos por sermos humanos, livres, justos e racionais.» não foi esse o meu caso. Mas bem podia ter sido... disse-mo o Meu Sangue Mouro

Larissa Santos disse...

Fantástica publicação :))

Hoje:- Neste pôr-do-sol, onde me envolvi | Dois anos de blogue |

Bjos
Votos de uma óptima Quinta- Feira

O Puma disse...

Também há flores no deserto
Boa partilha
Bj

Anónimo disse...

O deserto é o nosso encontro com o infinito, recordo um conto de Jorge Luis Borges, em que dizia: eis nos de encontro ao mais perfeito dos labirintos: o deserto. É o nosso encontro ao nada, à solidão e a Deus, todos os místicos la tiveram a sua visão, a começar por Cristo, ou antes Zoroastro, a religião monoteísta é obra do deserto... De quem regressa à civilização depois da prova.

alfacinha disse...

É verdade deve ser uma experiênça incrível.A fotografia é uma joia
beijos

SILO LÍRICO - Poemas, Contos, Crônicas e outros textos literários. disse...

Lindas, imagens, querida! Mas as imagens sozinhas pouco dizem ao observador. Porém teu texto adjacente, comove a alma que sente o
rouco silêncio a gritar. E o ser que está a olhar extasia-se ao deleite da mente a mentalizar que Deus é maior que o deserto habitado! Grande abraço! Laerte.

Jaime Portela disse...

Os lugares que nos mudam ou que, pelo menos, nos influenciam, podem ser um deserto, uma rua cheia de gente ou qualquer outro sítio. Tudo depende da nossa natureza ou do estado de espírito na ocasião.
O texto é magnífico, como sempre.
Ana, tenha um bom fim de semana.
Abraço.

Majo Dutra disse...

Penso que não sobreviveria a esse colo maternal...

Pelo que tenho lido, o deserto tem um encantamento muito especial...
Gostei muito de a ler, Ana.
Abraço grande,
~~~

Olinda Melo disse...


Querida Ana

Um texto belíssimo que nos introduz nessa transcedência
incomensurável: o deserto. Na sua imensidão sentimo-nos
pequenos e tudo o mais carece de sentido. Fala por si.

Adorei, querida amiga.

Beijinhos

Olinda

CÉU disse...

Escreves tão bem, Ana! Fizeste-me sentir todas as sensações, que tu tiveste. É este o poder da tua escrita.

Adoro o deserto, também, e já estive às portas do Sara. Gosto dos tons pastel, mas não nas vidas, aí, quero o sabor das deliciosas e sensuais tâmaras.

Beijinhos e dias felizes, com cor e sol, que tem andado "fugido".

CÉU disse...

Estava a esquecer-me das fotos que publicaste. Lindas e convidativas, como um colo eterno e maternal, como tu bem disseste. Muito grata por dares beleza aos meus olhos.

Beijo, querida Ana!