Rara Avis in Terris, JUVENAL, Sátiras, VI, 165

domingo, 25 de julho de 2010

XACOBEO 2010

                     
Xunta de Galicia/2010



Perco-me pelas ruas miudinhas de Santiago de Compostela. Deixo-me arrastar por uma multidão barulhenta, ávida de fé e de novidade. Novos e velhos crentes sabem que esta cidade medieval se encaminhará, inevitável, para a praça da catedral. Ter fé reside na certeza dos passos seguros e guiados.
De Xacobeo em Xacobeo me perco por ti. A nossa fé faz-se de laços que atámos neste dia, noutro Verão longínquo, quando era vinte e cinco de Julho.

Santiago de Compostela



 Compostela tem, por isso, a geografia de um sonho firme e quente. Tem a contradição de pólos que se atraem na sua diferença original. Mergulhada na treva nocturna, deserta e húmida, chega a impor-me um terror que não me consinto. Olho os nomes das ruas e revejo textos... Rosalía de Castro traz-me a candura de jovem amor. Caminho pela sua rua e, de memória, vou lendo:




Uma mller sin home..., 
ίsanto bendito!,
é corpiño sin alma,
festa sin trigo,
pau viradoiro
que onda queira que vaia
troncho que troncho.

Mais, em tendo um homiño,
ίVirxe do Carme!,
non hai mundo que chegue
pra um folgarse.
Que, zambo ou trenco,
sempre é bo ter un home
para um remédio.

Eu sei dum que cobisa
causa miralo,
lanzaliño de corpo,
roxo e encarnado,
caniñas de manteiga,
e palavras tan doces 
qual mentireiras. 

(Rosalía de Castro) 




Mas é Gonzalo Torrente Ballester que me acompanha hoje, por estas ruelas de lage onde escorrego suavemente. O Decano parece ganhar vida e abandonar a personagem para passear-se por aqui. Já não morrerá, O Decano
Bruxas e duendes vieram das florestas e o ruído distante do mar ecoa ainda. Eu nada vejo porque não creio. Eu sinto sem acreditar. As dúvidas são assim: incham-nos de antagonismos.
***
José pergunta-me para onde estou a olhar e respondo então:
- Pede-me um abade de Priscos.
Celebremos, sem sombra de pecado!

 Ana






(imagens google)




13 comentários:

Andradarte disse...

Só...digo, só ouvi falar em
abade de Priscos...???Um dia.....
Bela narrativa...Lá tive de ir
indagar...'Xacobeo'
Beijo

Sonhadora (Rosa Maria) disse...

Minha querida
Um belo texto, viajamos com ele.

Beijinhos com carinho
Sonhadora

Fernando Campanella disse...

Minha amiga, Ana, simplesmente maravilhosa esta postagem. Lindo escrito, reflexões, sentimentos, um estilo maravilhoso onde as palavras se conectam pela sensibilidade. Fotos lindas, também.
Bjinhos, adorei o post.

Fernando Santos (Chana) disse...

Olá Ana, belo texto...Espectacular....
Cumprimentos

Luma Rosa disse...

"Eu nada vejo porque não creio" igual a mim! Sigo o "ver para crer". Não acredito que colocou a imagem desse Prisco! (rs*) Beijus,

Terezinha Bordignon disse...

Oi Ana

Está de férias? Aí deve estar um verão delicioso. Aqui, um chazinho bem quente à noite aquece bem. Eu Estou de férias, viajo sexta para Aparecida do Norte. Vou rezar pra você também.


Beijos

Gerana Damulakis disse...

Ah, Ballester: O rei pasmado e a rainha nua: inesquecível!

Bípede Implume disse...

Querida Aninha
Comprendo a magia que queres transmitir.
O poema da Rosalia...que delícia.
Esta língua tão familiar... estamos em casa.
Mais uma vez, nota 20(sou antiga, já disse) para tanta beleza.
Pois mas tu tens hortênsias lindas e as minhas uma miséria.
Beijinhos.
Isabel

Nilson Barcelli disse...

Sou agnóstico, mas acho Santiago de Compostela um local mágico. Não sei o que tem, mas a verdade é que me sinto muito bem lá.
Beijos, querida amiga.

Cristina disse...

Un chemin fabuleux...
beijinhos.

Bípede Implume disse...

Querida Aninha
Com a chegada da minha filhota, inicio umas pequenas férias. Mas estarei sempre atenta.
Espero que as tuas estejam igualmente próximas.
Até breve e beijinhos de muita amizade.
Isabel

MARU disse...

Querida amiga Ana.
Que bem conheces este país.
Eu conheço bem Santiago de Compostela, pois näo há muito, morei tres anos e meio en Vigo.
Cidade cheia de beleza, de misterios, de fé, de poesia, de garôa.
Ainda o näo crente, fica mudo, cuando com a Catedral cheia, ve passar o botafumeiro de prata, por cima das cabeças dos que chegaram de fazer o caminho, como peregrinos.

Cada lustro, volta o xacobeo e se renova o caminho.

Descreves täo bem, que, desde Valencia, posso estar contigo alí.

Obrigado por tanta beleza.
Um beijinho, querida amiga.

Anónimo disse...

Quero manifestar o meu azedume, Ana: então editas um pires a transbordar de um pudim que -- É tão fácil imaginar! -- estará delicioso sem que, ao menos uma colherada, meu deus, esteja ao nosso alcance?

Tens consciência da atrocidade que infliges a este pobre, humilde e destroçado guloso?

O «Guizo e o Gato» está em processo de «restyling».
Ocorrerá durante o mês de Agosto.

Como para tudo haverá um culpado, eu escolhi a Silly Season.
Vou fazer uma pausa.
É salutar.
Já as últimas edições -- Todas agendadas -- deram uma bela folga que urge continuar.
O único problema associado é a projecção do sentimentro na audiência de afastamento por não ocorrerem visitas e comentários às edições.

Conto ir retomando essa rotina até Setembro, para então voltar revigorado.

Por isso desejo-te boas férias, se for caso disso.

Beijinho e até Setembro.