Rara Avis in Terris, JUVENAL, Sátiras, VI, 165

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Ah, abram-me outra realidade!

Aquiles Rondan, pintor peruano



(Álvaro de Campos)

Ah, abram-me outra realidade!
Quero ter, como Blake, a contiguidade dos anjos
E ter visões por almoço.
Quero encontrar as fadas na rua!
Quero desimaginar-me deste mundo feito com garras,
Desta civilização feita com pregos.
Quero viver como uma bandeira à brisa,
Símbolo de qualquer coisa no alto de uma coisa qualquer!
Depois encerrem-me onde queiram.
Meu coração verdadeiro continuará velando
Pano brasonado a esfinges,
No alto do mastro das visões
Aos quatro ventos do Mistério.
O Norte — o que todos querem
O Sul — o que todos desejam
O Este — de onde tudo vem
O Oeste — aonde tudo finda
— Os quatro ventos do místico ar da civilização
— Os quatro modos de não ter razão, e de entender o mundo
4-4-1929
Álvaro de Campos - Livro de Versos . Fernando Pessoa. (Edição crítica. Introdução, transcrição, organização e notas de Teresa Rita Lopes.) Lisboa: Estampa, 1993. 
 - 99.

Ler mais em:


Persi Narvaez, pintor peruano



14 comentários:

Fernando Santos (Chana) disse...

Olá Ana, belo texto...Espectacular....
Passe no meu blog tem lá um Prémio....
Cumprimentos

São disse...

Após ter ouvido Aguiar Branco, bem necessito de outra realidade, efectivamente!!

Um abraço apertado , com muita gratidão pelas gentis palavras que me ofereceste no "são"

Fá menor disse...

Gosto, gosto! :)

Bjinhs

Nilson Barcelli disse...

Hoje, a "civilização feita com pregos" transformou-se numa civilização feita de tesouras, com cortes nos subsídios, nos salários, etc., etc.
Se o Poeta fosse vivo, imagino como seria a sua poesia...
Beijinhos, querida amiga.

Isa Lisboa disse...

O meu heterónimo favorito de Pessoa!

Lembra-me a vontade de me refugiar no Oeste, se tudo finda...!

Beijos

Marina Filgueira disse...

Hola Ana:
Nos dejas un hermoso texto con unas pinturas excelentes.

Ha sido un placer, gracias por compartir tanta belleza.
Te dejo un beso y mi estima siempre.
Se muy feliz.

Bípede Implume disse...

Querida Aninha
Em 1961 ofereceram-me toda a obra poética de Fernando Pessoa.
Passou a ser a minha Bíblia. Está tão velhinho que já comprei outro para que essa edição, que foi a primeira, não se estrague de vez.
Gosto de todos os heterónimos mas Alberto Caeiro e Álvaro de Campos são os preferidos.
Vê-lo aqui enche-me de felicidade, embora eu perceba bem que não é de felicidade que se trata.
Vivemos tempos muito graves a todos os níveis. Que nos reservará o futuro?
Boa semana e beijinho de amizade.
Isabel

Sonhadora (Rosa Maria) disse...

Minha querida Ana

E como precisamos de outra realidade, que esta está muito negra.
Lindo este poema de Pessoa.

Um beijinho com carinho
Sonhadora

Guma disse...

Olá Ana

Não trago nada de novo, nem uma outra realidade, quem dera.
Venho deixar um beijo e o kandando de sempre. Não são grandes confortos, mas é bom saber que há quem compartilhe o que dá para pensar e fazer lembrar que cada um de nós faz imensa falta, para que essa tão desejada (outra) realidade aconteça. Um trabalho árduo e que englobe todos sem excepções.

vieira calado disse...

Vindo de quem vem...

está tudo dito!

Beijinho para si!

Andradarte disse...

QUE BONITA FOTO, ACOMPANHA
ESTE POEMA......
bfs
Beijo

Bípede Implume disse...

Querida Aninha
Passando para deixar beijinho e um fim de semana em paz.
Isabel

Margarida disse...

Adoro Álvaro de Campos, como sabe.
Ando bem, na minha vida toda cosmopolita... Com algumas saudades do campo. Eu não dou para isto.
Espero que esteja igualmente bem :)

Beijinhos

Petrus Monte Real disse...

Ana,

A palavra do Poeta assenta como uma luva
no momento
que o país atravessa.
A Arte ajuda a suportar o negrume
que no céu prenuncia a tempestade.
Grande abraço