Rara Avis in Terris, JUVENAL, Sátiras, VI, 165

domingo, 27 de março de 2016

Passagem

Salvador Dalí, Premonição da Guerra


Provisoriamente não cantaremos o amor,
que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos.
Cantaremos o medo, que estereliza os abraços,
não cantaremos o ódio, porque este não existe,
existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro,
o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos,
o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas,
cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas,
cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte.
Depois morreremos de medo
e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas.


Carlos Drummond de Andrade






Passagem = Páscoa




4 comentários:

Graça Pires disse...

Carlos Drummond de Andrade, tão a propósito destes tempos que nos inquietam...
Um beijo, Ana.

Mar Arável disse...

Verdades improváveis?

Manuel Veiga disse...

flores amarelas, "merdosos" que somos!

beijo

AC disse...

Ontem educaram-nos no medo, hoje não reagimos ao medo. Escondemo-nos. E amanhã?

Um beijinho :)