Foto: Félix Esteves - 25 de Abril de 1974 |
Havia uma lua de prata e sangue
em cada mão.
Era Abril.
Havia um vento
que empurrava o nosso olhar
e um momento de água clara a escorrer
pelo rosto das mães cansadas.
Era Abril
que descia aos tropeções
pelas ladeiras da cidade.
Abril
tingindo de perfume os hospitais
e colando um verso branco em cada farda.
Era Abril
o mês imprescindível que trazia
um sonho de bagos de romã
e o ar
a saber a framboesas.
Abril
um mês de flores concretas
colocadas na espoleta do desejo
flores pesadas de seiva e cânticos azuis
um mês de flores
um mês.
Havia barcos a voltar
de parte nenhuma
em Abril
e homens que escavavam a terra
em busca da vertical.
Ardiam as palavras
Nesse mês
e foram vistos
dicionários a voar
e mulheres que se despiam abraçando
a pele das oliveiras.
Era Abril que veio e que partiu.
Abril
a deixar sementes prateadas
germinando longamente
no olhar dos meninos por haver.
José Fanha, Lisboa, Portugal
(Do livro ainda inédito "Tempo azul")
“Estaria naturalmente muito preocupado” — Natércia Salgueiro Maia recorda o marido 50 anos depois da Revolução.
Meio século depois, a mulher de Salgueiro Maia lembrou o capitão de Abril e falou sobre o atual panorama que Portugal se encontra a viver. (Fonte: SIC)
14 comentários:
E era abril, 25, há 50 anos atrás.
Feliz dia da liberdade! beijos, chica
E era abril, 25, há 50 anos atrás!
Feliz dia da liberdade! Deve sempre ser festejada! beijos, chica
Esta foto que encima o post deve ser das mais emblemáticas deste dia de há 50 anos.
Nela podemos ver Salgueiro Maia, através do megafone, fazer o pedido de rendição ao então Presidente do Conselho que se havia aquartelado no quartel do Largo do Carmo, juntamente com outros membros do seu Governo.
Gostei muito deste invulgar e inédito poema de José Fanha.
Naturalmente, como bem referiu a esposa do capitão de Abril, este só poderia estar bastante preocupado com tudo o que acontece e tem acontecido, depois deste dia, se tivesse tido a felicidade de viver até à data cinquentenária, mas Deus não quis.
Um belo trabalho de recolha a marcar este dia histórico, Ana.
Um abraço.
"Era Abril que veio e que partiu."
Fanha, antecipou; nesse verso, o que disse Natércia Salgueiro Maia
Beijo
Querida Ana
Gostei muito o poema de José Fanha,
para festejar os 50 anos da Revolução
de 1974.
Salgueiro Maia o capitão impoluto.
Sempre que se fala da Revolução o seu
rosto e postura se impõem.
Beijinhos
Olinda
É fabuloso, o poema de José Fanha.
Todos nós, que lançámos um grãozinho de areia para o cimento da construção de Abril, estamos naturalmente muito preocupados.
Um beijo, Ana!
Muito belo!
Abril..., outra vez. Que novos versos floridos se escrevam!
Beijinhos.
Lindo homenaje . Lindo poema. Te mando un beso.
Abril celebra a Liberda, festeja a Democracia e, de cravo na mão, faz a revolução que não tarda e cala o fogo no cano da espingarda.
Abraço de paz e amizade.
Juvenal Nunes
Boa tarde, um excelente domingo e um bom início de semana Ana. Nosso outono em abril, parece mais o verão. Grande abraço carioca.
Querida Ana,
A liberdade de um povo e a volta da sua democracia é realmente algo para celebrar, aqui no Brasil como em Portugal e diversos outros países viveram ditaduras sangrentas e o fascismo tomando conta das suas nações. Felizmente na maioria desses países antes dominados por militares conseguiram se livrar desse terrível mal e hoje vivem períodos democráticos e de liberdade de expressão. Fascismo nunca mais, ditadura nunca mais!
Um beijo!
Este poema do Fanha é muito bom.
Salgueiro Maia foi um desbloqueador paciente e firme quando as coisas estiveram tremidas. A ele se deve muito do êxito da revolução e de não ter sido derramado sangue, como é habitual neste tipo de golpes militares.
Boa semana.
Beijo.
Era Abril. E nós acreditámos que seria a vida toda...
Um belíssimo poema de José Fanha.
Uma boa semana, minha Amiga Ana.
Um beijo.
Gostei de ler o belo poema de José Fanha.
Lembro-me da esposa de Salgueiro Maia contar que o marido lamentava-se
dizendo que lhe parecia que os portugueses não gostavam dele...
Depois de 50 anos de ditadura e tanto sofrimento, o povo pedia vingança...
Lembro-me que na altura, fiquei dececionada, pois pensava que o governo
da ditadura cessante deveria sair mais humilhado...
Muito lamento que tenha partido tão precocemente, todas as homenagens
são poucas.
Um abraço grande, até o meu regresso.
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