Rara Avis in Terris, JUVENAL, Sátiras, VI, 165

quinta-feira, 25 de abril de 2013

A Forma Justa



Sei que seria possível construir o mundo justo 
As cidades poderiam ser claras e lavadas 
Pelo canto dos espaços e das fontes 
O céu o mar e a terra estão prontos 
A saciar a nossa fome do terrestre
A terra onde estamos — se ninguém atraiçoasse — proporia
Cada dia a cada um a liberdade e o reino
— Na concha na flor no homem e no fruto
Se nada adoecer a própria forma é justa
E no todo se integra como palavra em verso
Sei que seria possível construir a forma justa
De uma cidade humana que fosse
Fiel à perfeição do universo

Por isso recomeço sem cessar a partir da página em branco
E este é meu ofício de poeta para a reconstrução do mundo 


                                                                                                       Sophia de Mello Breyner Andresen


O Velho Abutre

O velho abutre é sábio e alisa as suas penas
A podridão lhe agrada e seus discursos
Têm o dom de tornar as almas mais pequenas

Sophia de Mello Breyner Andresen, In Livro Sexto, 1962

11 comentários:

O Puma disse...

Vozes ao alto

Maria Lucas disse...

O sonho de um mundo perfeito se renova a cada dia e morre a cada noite pela constatação da imperfeição humana.













































Olinda Melo disse...


Querida Ana

Adoro este poema de Sophia.

A forma é justa e nós imperfeitos. O importante é recomeçar sempre que a forma transborde e nos leve para caminhos não desejados. E reescrever o nosso rumo...

Bj

Olinda

Rogério G.V. Pereira disse...

"...oficio de poeta para a reconstrução do mundo"

Eis uma boa ocupação para um jovem reformado.

Bípede Implume disse...

Querida Aninha
Nestes momento estamos todos vulneráveis. Mas vamos resistir.
O que eu adoro essa frase magistral sobre o velho abutre. He..he.. he.
Muito bem escolhida.
Bom fim de semana.
Vou começar, finalmente, a reparar os estragos do Inverno nas minhas plantinhas.
Xi coração muito solidário.
Isaabel

Mar Arável disse...

Grande Sophia

São disse...

EStupendo post, Ana!

O primeiro poema desconhecia, mas o segundo tenho-o muito presente... e só me apetece aplicá-lo a Cavaco Silva, depois do inqualificável discurso que fez na Assembleia da REpública anteontem e que até fez os cravos desmaiarem de vergonha.

Bons sonhos.

Maria Luisa Adães disse...

Para se construir um mundo justo,como idealizou Sophia, teria de se acabar com este mundo!

Depois do Holocausto e da maldade insana do que se fez, o homem meditou e talvez por breves instantes pensou, "isto não pode tornar a acontecer"...mas esqueceu
e o genocidio continuou de uma outra maneira e os sonhos de Paz morreram há muito na mente humana.

Sophia eis a resposta ao teu sonho E lamento que isto seja verdade!...

Beijos minha amiga,

Maria Luísa

. intemporal . disse...

.

.

. urge repensar abril . pela voz daqueles que foram . são e serão . as vozes inequívocas da poesia lusa .

.

. da qual nos orgulhamos . incondicionalmente .

.

. um bom fim de semana .

.

.

Fá menor disse...

Sim, sei que seria possível...
se esses abutres não houvesse!

Bjs

Petrus Monte Real disse...

Ana,

Tudo foi dito...
Tudo está dito...
Só não ouve quem não quer.

Bom sábado