Rara Avis in Terris, JUVENAL, Sátiras, VI, 165

terça-feira, 13 de agosto de 2019

Memórias 2




José Alves, 2019

O acaso de uma marcação prévia trouxe-nos aqui. É necessário guardar num parque pago o carro de matrícula IL. Neste lugar nenhum seguro nos garante. Passamos a andar a pé à média de 12 km por dia, ou de táxi. Sabemos onde estamos. Uma placa traça-nos um breve historial da casa e todos os funcionários são homens. Visto-me de forma discreta, mas sinto algum desconforto íntimo. Ao fundo da Nablus Road, fazendo esquina, fica o American Colony. Duplo incómodoNem sei o que mais me perturba. 
Precisava de alguma inocência livresca para me sentir segura. Aqui, tudo se desfaz e se põe em perspectiva. Os sorrisos são raros.


José Alves, 2019

O gosto árabe do século XIX renova memórias inoportunas. Alguma decadência mina esta atmosfera. Somos resilientes e isso ajuda-nos. Sabemos bem que já foi cenário de horrores e até clínica.


José Alves, 2019

Ao segundo dia, o funcionário sorriu. Não somos ingleses, nem franceses, nem americanos e o nosso passaporte português abre-nos muitos caminhos nesta terra de tantos separatismos, disputas, vencidos e vencedores. 

Dormi agitada, a Festa do Sacrifício (muçulmana) e  Tisha b'Av (judía) aproximam-se e os «raids» nocturnos acordam-me com rajadas de metralhadora, num bairro abaixo. 
Lembras-te dos Filisteus? 

Não me peças que decida. O que vejo é hediondo, mas não é a preto e branco. Setenta anos de guerra são capítulos no tempo. E...eu estou aqui a tentar compreender. Jamais serei a mesma.


Ana




6 comentários:

Rogério G.V. Pereira disse...

Chora, Minha Alma Celta
Fica mudo, Meu Coração Luso
E Meu Sangue Mouro se revolta

O Mundo não tinha que ser assim
como nos contas aqui

João Santana Pinto disse...

Não consigo imaginar... O planeta tem muitos locais que gostaria de visitar, mas, algo em mim bloqueia esses planos. Gosto de sentir-me seguro e de sentir os "meus" seguros também...

Faço muitas cendências ao nível das férias, mas, não creio ter coragem.

Penso em todo o caso que regressas com uma perspectiva de vida completamente diferente e que a Ana que conhecias... cresceu um pouco mais.

Um grande beijinho

Pedro Luso de Carvalho disse...

Olá, Ana!
Em visita ao blog da nossa amiga Majo encontrei o seu comentário à postagem dela, razão pela qual vim para conhecer o seu blog, aliás muito bom. Também gostei de suas postagem, com esse interessante tema. Parabéns!
Boa continuação da semana, Ana. Beijo. Pedro

CÉU disse...

Foste a Jerusalém, Ana, e o teu cérebro não parou um segundo.
A História, embora não seja uma ciência exata, ensina-nos tantas coisas!
Estive vendo vídeos sobre Nablus Road e sobre o American Colony. Quão antagónicos!

Beijos e bom feriado.

Anónimo disse...

Estiveste na Cidade Santa, terra onde nasceu o meu avô.
Beijinho Ana e bom fim-de-semana

Majo Dutra disse...

Grata por nos deixar o seu testemunho, em palavras explícitas,
inquietas e sentidas.
A cidade santa de tantos e de tanta discórdia...
Tanto tempo de espanto!
Continuação de boas férias, querida Amiga.
Terno abraço.
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