Rara Avis in Terris, JUVENAL, Sátiras, VI, 165

sábado, 2 de outubro de 2010

Gliese 581.g

Vladimir Kush

Espera-se aqui um poema ou quase, porque já foi dito que só brinco com as palavras. Espera-se aqui uma brincadeira com palavras, mas isto não anda para brincadeiras...
Não, não me sei zangar. Aves de luz incendeiam o poente e seremos sobreviventes boreais. Caminharemos até ao limiar daquele horizonte distante onde os homens sabem que as coisas simples lhes trarão, sempre, sossegos inesperados. Somos mendigos de sonhos e esses não se deixarão abater pelos rigores da História.
Quando, compulsivamente, lia Arnold J. Toynbee mal saía da adolescência e acreditei que todas as civilizações: nascem, crescem e se preparam para a queda abissal. 
Não me tragas agora modelos e paradigmas.
A História atrai, mas não emociona. O meu destino é o infinito, onde uma poeira cósmica não é um padrão comum. O meu destino é o nada inicial para onde caminhamos inexoravelmente. Se lá no início estiver Deus, será bem diferente desta cacografia mundana.
O discurso moribundo dos economistas assola o meu país. O sebastianismo já grassa por sobre a desgraça...
E que tal partirmos, em naves de sonho, em nuvens de aves, para Gliese. 581g onde, talvez, haja seres impolutos, justos e fraternos?

Ana

Apolo11.com - Gliese.581g


14 comentários:

Sonhadora (Rosa Maria) disse...

Minha querida
Um belo texto, como sempre.

Deixo um beijinho
Sonhadora

Gerana Damulakis disse...

"A História atrai, mas não emociona": é exatamente assim que eu vejo a História.
Ana, vc não brinca com as palavras jamais. Creio que vc lida com elas intimamente, mas não brinca, usa-as com seriedade.

vieira calado disse...

Olá, amiga!

Gostei muito do deu texto.

O sebastianismo volta sempre.

Agora,

na forma dum planeta dessa estrela,

onde talvez encontremos a redenção.

Beijinho

Laura disse...

Mesmo sem ser num poema, brinca sempre com as palavras. E maravilhosamente.
beijinho

Meg disse...

É, Ana!
Somos mendigos de sonhos e esses não se deixarão abater pelos rigores da História.
Eu também espero que não, porque se não sonharmos, morremos.
Adorei o teu post.
Um beijo

Andradarte disse...

Talvez...sim talvez...porque o mais
certo é não encontrar em lado algum....
Esperemos o D. Sebastião..
Beijo

AFRICA EM POESIA disse...

Ana

Obrigada pela visita
Um beijo e um bloco de notas...
O texto é lindo...
gostei de o ler.

Bípede Implume disse...

Querida Aninha
Este novo planeta que se encontra a 20 anos-luz da Terra, parece-me bem bonito, olhando a fotografia.
Das tuas belas palavras retenho esta síndroma do nevoeiro que nos acompanha ao longo dos séculos.
O que me fica é o prazer sempre crescente de te ler.
Voltando à Quinta dos Loridos aconselho a visita a loja dos vinhos. Tem os bons vinhos Bacalhôa mas os Loridos foram uma surpresa. Tens o Loridos chardonnay, um pouco mais caro. Mas o Loridos rosé e o Loridos Vintage, mais em conta, são muito bons.
Os Loridos só se compram lá.
Minha querida desculpa esta prosa tão terrena... mas a vida precisa destes pequenos prazeres, também.
Bom feriado.
Beijinhos
Isabel

Cristina disse...

belo texto para uma foto sumptuoso.
Beijinhos.

Miguel disse...

As palavras sempre bem usadas a darem voz a um texto belíssimo. E não é que de repente me deu vontade de conhecer Gliese?

Unknown disse...

Os tempos correm adversos.
Sem dúvida.
Faltam verdadeiros lideres;
Faltam desígnios;
É lamentável que seja apenas o futebol o único indutor de entusiasmos (Porém, já muito fracotes!)

O regresso a uma certa ideia de casa de partida será difícil...

O que realmente restará é cada um tentar o seu melhor podendo ser esse simples contributo algo que possa valer um módico.

Bjs, Ana

Blogadinha disse...

É o Homem que faz a História.
Fugir-lhe, uma fuga irreal.

Deambulação em forte concorrência com a poesia - gostei.

utopia das palavras disse...

Um texto bem real,sério e a hipótese de uma fuga que me agrada!!

Abraço
:)

Fernando Campanella disse...

Ou então irmos para Passárgada, do Bandeira, Ana. Para além da Economia, da História, da Filosofia, temos a alma e sua essência, a utopia, a fantasia, nossa busca por um tempo onde o real é fantasia.
Grande abraço, minha querida amiga.