Rara Avis in Terris, JUVENAL, Sátiras, VI, 165

sábado, 18 de julho de 2009

Gibran Khallil Gibran



Baalbek, Líbano.org

Corro, com os meus pensamentos sob este sol inclemente. Sou deste lugar. Conheço o som das cigarras e sei daquele barulho abafado de aves de rapina que tentam voar, dolentes, ao calor do meio - dia.
Contraditória natureza. O cheiro quente do sobro, o estalar dos meus passos, as ervas secas que quebram, a luz aguda a cegar os meus olhos pardos, de felino habituado a décadas deste desafio de dias suados...contraditória natureza! Aquela sombra minúscula de sol a pique que me segue, duplo daquilo que sou, espelho da burocracia infindável que me persegue, traz-me, de súbito, a memória de um velho poeta fenício/libanês - Gibran Khallil.
Pedaços de texto, nuas verdades e subtilezas... barcos de outrora que planam sobre a realidade e o cedro do velho e belo Líbano aponta-me a direcção próxima da minha casa.
«Moras aqui!», dizem os que me conhecem de outros lugares e se deparam com o esguio cedro. O meu amor, sangue de remotos mediterrânicos, exala em redor.
Ana

O louco
«Perguntais-me como me tornei louco. Aconteceu assim:

Um dia, muito tempo antes de muitos deuses terem nascido, despertei de um sono profundo e notei que todas as minhas máscaras tinham sido roubadas – as sete máscaras que eu havia confeccionado e usado em sete vidas – e corri sem máscara pelas ruas cheias de gente gritando: “Ladrões, ladrões, malditos ladrões!”

Homens e mulheres riram de mim e alguns correram para casa, com medo de mim.

E quando cheguei à praça do mercado, um garoto trepado no telhado de uma casa gritou: “É um louco!” Olhei para cima, para vê-lo. O sol beijou pela primeira vez minha face nua.

Pela primeira vez, o sol beijava minha face nua, e minha alma inflamou-se de amor pelo sol, e não desejei mais minhas máscaras. E, como num transe, gritei: “Benditos, benditos os ladrões que roubaram minhas máscaras!”

Assim me tornei louco.

E encontrei tanto liberdade como segurança em minha loucura: a liberdade da solidão e a segurança de não ser compreendido, pois aquele que nos compreende escraviza alguma coisa em nós.»

7 comentários:

Margarida disse...

Outro dia fui lá à escola e vi que teve muito bons resultados dos seus alunos de 11º. Parabens!
Beijinhos

ETERNA APAIXONADA disse...

Querida Ana!

Feliz Dia do Amigo! (Já que se tem a data especial, apesar de a considerar 365 dias do ano!)

Obrigada pelo vídeo! Adorei! Levei-o ao site de hospedagem e salvei-o. Veja em meu blog do Eternas.

Deixo o link do vídeo, caso queira.

http://s485.photobucket.com/albums/rr220/dreams2008_fantasy/JULHO2009/?action=view&current=BesamaMucho.flv

Meu abraço e um beijo amigo,

Helô

Luma Rosa disse...

Os livres são incompreendidos e por isso chamados de loucos, rebeldes, marginais e tantos outros adjetivos. O sol, a consciência que compreende, mas não aceita a normalidade. Boa semana! Beijus

ADRIANO NUNES disse...

Ana,

Lindo!


Abração!
Adriano Nunes.

Bípede Implume disse...

Ainda não li o teu post mas venho retribuir o beijinho de boa noite.
As minhas arrumações estão quase...quase prontas.
O meu post hoje também é a correr, mas voltarei com mais tempo.
Boa noite amiga. Bom descanso.
Beijinhos.

Bípede Implume disse...

O teu texto é muito bonito.É um sentir tão profundo. Gosto de sentir o Alentejo através da tua escrita.
Mais um beijinho e boa noite, amiga.

Janaina Amado disse...

Ana, lindo o teu texto, e como se entrelaça bem com o de Gibran!
Sei que andas cansada de trabalho, e passei aqui também para lhe deixar um abraço solidário.